segunda-feira, 24 de abril de 2017

Apenas em 2017, quatro ciclistas morreram em acidentes de trânsito

O administrador Edson Antonelli morreu ontem, depois de ser atingido e arrastado quando pedalava na ciclofaixa do Lago Norte. A motorista foi presa em flagrante, sem direito a fiança, e deve responder por homicídio culposo
Ciclista morre atropelado na ciclovia do Lago Norte


Ao chegar no local do acidente, Daniel Antonelli, filho do ciclista Edson Antonelli, 61 anos, não precisou levantar o pano branco que cobria o corpo para saber que se tratava do pai. Reconheceu a bicicleta retorcida e, aos prantos, se sentou no meio-fio, amparado por agentes do Departamento de Estradas de Rodagem (DER).
 
O desespero do rapaz se soma ao de familiares de outras vítimas da trágica combinação entre álcool e volante. No Distrito Federal, não existem estatísticas que apontem a quantidade de acidentes com mortes provocados por motoristas embriagados. Porém, é crescente o número de pessoas autuadas por dirigirem sob efeito de álcool.
 
Levantamento do Departamento de Trânsito (Detran-DF) revela que, apenas no primeiro trimestre de 2017, 4.834 pessoas foram pegas embriagadas ao volante. O índice representa um aumento de 36,5 % em relação ao mesmo período do ano anterior. 
 

Estatísticas também apontam que o álcool estava no corpo de, pelo menos, 28% das vítimas mortas em 2015 no trânsito. Com base nos laudos do Instituto de Medicina Legal (IML), a gerência de estatística do Detran identificou que, dos 354 mortos no primeiro semestre do ano retrasado, 99 tinham ingerido bebida alcoólica.A comprovação se deu por meio do exame de sangue realizado nas vítimas — o número abarca condutores de quaisquer veículos, pedestres e passageiros. No mesmo parâmetro, em 2014, entre os 406 cidadãos que padeceram em acidentes de trânsito, 120 tiveram resultados positivos para dosagem de álcool. Mais um sinal de que bebida é um ingrediente perigoso quando associada à direção.

O filho de Edson Antonelli não teve condições emocionais de falar com a reportagem sobre o pai. Ele soube do acidente por agentes, que pegaram o telefone do empresário e ligaram para o contato identificado como “filho”. Mas o rapaz só soube da gravidade do caso ao chegar ao local. Mais tarde, porém, ao Correio, Amanda Antonelli, filha de Edson, falou sobre o drama da família. “Após o acidente, nossa casa recebeu dezenas de amigos do meu pai. Ele era uma pessoa muito querida e presente”, lamentou.

 Edson foi atropelado na ciclofaixa, na DF-009, a via principal do Lago Norte, ontem, por volta das 10h. Ele era morador da QI 07 e, segundo a reportagem apurou, havia saído para passear de bicicleta na região. De acordo com amigos e familiares da vítima, ele tinha o hábito de pedalar pela quadra. Somente neste ano, quatro ciclistas morreram no Distrito Federal em acidentes de trânsito. Durante todo o ano passado, foram 19.

Da festa ao acidente
A jovem Mônica Karina Rocha Cajado Lopes, 20 anos, dirigia um GM Ônix e teria invadido a pista exclusiva para ciclistas. O corpo do empresário foi arrastado por alguns metros até que a estudante de direito conseguisse parar o carro. Pelo caminho, ficaram o boné, mais à frente, o fone de ouvido, os óculos, a bicicleta e, por fim, o corpo. 

Um casal que passava na hora não presenciou o exato momento da colisão, mas viu a motorista sair do veículo e ir até o senhor. Eles aceleraram o carro e foram pedir socorro no posto do Corpo de Bombeiros, que fica próximo do local do acidente. “Alguns carros já tinham parado, e meu marido quis parar também. Eu disse para acelerar, porque chamaríamos os bombeiros pessoalmente. Quando chegamos lá, eles nem sabiam do acidente”, contou a testemunha. Os técnicos do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) tentaram ressuscitá-lo por, pelo menos, meia hora, mas Edson não resistiu a uma parada cardiorrespiratória.

Muito abalada e com uma crise nervosa provocada pela situação, a jovem também teve que ser socorrida pelos bombeiros. Segundo um policial militar que atendeu a ocorrência, uma amiga de Mônica chegou para ajudar logo em seguida. O DER afirmou que a condutora tinha 0,85 miligramas de álcool por litro de ar expelido dos pulmões, quando soprou o bafômetro.
 
Após o resultado, a PM encaminhou a moça para a 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá). Ao delegado, Mônica afirmou que, momentos antes do acidente, estava na Festa “Surreal”, na Torre Digital. De lá, teria solicitado um carro pelo aplicativo Uber que a levasse até a QI 12, onde deixara o veículo. A moça ainda detalhou que, ao volante, dirigia na velocidade da via, a 70km/h. Mas “não se recorda do que aconteceu, acreditando que tenha dormido, e apenas percebeu o acidente quando ouviu a pancada.”

Homícidio culposo
O acidente remeteu a um episódio recente — e angustiante — de atropelamento no círculo de amizades da filha de Edson. Amanda é próxima ao ciclista Fernando Gastal Ripoli, atingido enquanto pedalava na ciclovia da QL 20 do Lago Sul, em março deste ano. O rapaz não recuperou os movimentos das pernas e retoma a fala aos poucos. “Essa foi a primeira coisa que veio à minha mente quando soube do meu pai. Infelizmente, ele, sequer, resistiu. Espero que essa garota ponha a mão na consciência. Pode ter se divertido bastante em uma festa, mas, logo depois, destruiu minha família”, pontuou Amanda. 

Mônica Karina responderá por homicídio culposo e embriaguez ao volante, com base no Código Brasileiro de Trânsito (CTB). Juntas, as penas ultrapassam quatro anos e, por isso, a Polícia Civil não arbitrou fiança ao decretar a prisão em flagrante. A condutora passou a noite na carceragem do Departamento de Polícia Especializada (DPE) e deve ser transferida, ainda hoje, à Penitenciária Feminina Colmeia. O enterro de Edson Antonelli será hoje, às 13h, no cemitério Campo da Esperança. 

A vítima
 
Pai próximo e amigo fiel

Pai de dois filhos, avô de um menino de 1 ano e quatro meses, casado com a paisagista Rose Antonelli por mais de três décadas. Esse é o retrato de Edson Antonelli, morador do Lago Norte, morto perto de casa, na manhã de ontem, atropelado quando fazia um passeio de bicicleta. O senhor de 61 anos, como a filha, Amanda Antonelli, descreve: “era daqueles que arrancam sorrisos e conquistam amizades em qualquer lugar”. Na área profissional, formado em Administração, Edson ocupou a diretoria executiva de operações da empresa CTIS.
 
Mas atualmente se dedicava a projetos pessoais. No coração, guardava a paixão pelas pedaladas, às quais se dedicava pelas manhãs, e, principalmente, pelo Palmeiras. Ao partir, Antonelli deixa no peito dos familiares, um “aperto indescritível”, como lamenta a filha, No próximo 21 de junho, não haverá a tradicional comemoração de seu aniversário, que costumava irradiar a casa. Amanda afirma que vão seguir na memória as lembranças “de um pai próximo e cuidadoso e de um amigo fiel”.


Atropelamento próximo à faixa

Uma senhora de 60 anos foi atropelada ontem, por volta de 11h30, quando atravessava a rua próximo a uma faixa de pedestres da SQN 305. Maria Lídia Barbosa dos Santos foi socorrida e levada pelo Corpo de Bombeiros para o Hospital de Base, com suspeita de fratura no braço esquerdo. Segundo relato de testemunhas, ela foi atingida por um Fiat Siena dirigido por Guilherme Henrique Oliveira da Silva, 27. Segundo o Departamento de Trânsito (Detran), o acidente não ocorreu durante a travessia da vítima sobre a faixa. Ainda segundo o Detran, o condutor não ficou ferido e não apresentava sintomas de embriaguez. O trânsito ficou interrompido durante todo o atendimento à vítima.

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