segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Pablo Marçal: O novo outsider que desafia a política tradicional

 

Foto: Gabriel Silva

Por Edmar Lyra

Pablo Marçal, o ex-coach que emergiu como um “outsider” na política brasileira, está transformando a corrida eleitoral em São Paulo num verdadeiro museu de grandes novidades. Em um cenário polarizado, onde a política tradicional enfrenta uma crise de confiança, Marçal se apresenta como a personificação da negação desse sistema.

O sucesso recente de Marçal nas redes sociais, aliado ao seu carisma e estilo direto, mostra que o campo progressista continua atrasado no entendimento e domínio da comunicação digital. Esse atraso não é por falta de recursos, mas por uma resistência em abraçar a lógica das plataformas digitais. Para prosperar nesse novo ambiente, os candidatos precisam ter coragem e disponibilidade para gerar e distribuir conteúdo em grande escala. Nesse sentido, a habilidade de Marçal em engajar seu público nas redes sociais o coloca em vantagem.

A narrativa de Marçal como “outsider” é mais autêntica do que a de Bolsonaro em 2018. Enquanto Bolsonaro capitalizou o sentimento anti-establishment, Marçal se posiciona como alguém que nunca trabalhou na política, tornando-o mais palatável para um eleitorado que busca por uma mudança radical. Esse terreno foi cimentado por Bolsonaro, e agora Marçal caminha sobre ele, falando diretamente a um público que já simpatiza com essa retórica anti-sistema.

Entretanto, o desgaste da imagem de Bolsonaro, especialmente após suas concessões ao Centrão, abriu espaço para que Marçal conquiste uma parcela significativa do eleitorado. Marçal manipula sentimentos fortes, oferecendo uma promessa de esperança, embora vazia, ao afirmar que ele tem as ferramentas para que todos se tornem milionários como ele. Isso o aproxima dos gurus corporativos dos anos 90 e dos pastores evangélicos adeptos à Teologia da Prosperidade, fazendo com que sua mensagem ressoe profundamente com seu público.

Além disso, o fato de Marçal ser um influenciador digital de sucesso, profissão dos sonhos de muitos jovens, fortalece ainda mais sua posição. Ele conta com o apoio de um exército de influenciadores digitais, ampliando ainda mais sua influência.

Contudo, há uma parte significativa do eleitorado que não consegue conceber a ideia de Marçal como uma opção viável para o segundo turno. Até agora, Tabata Amaral foi a única candidata que enfrentou Marçal diretamente, utilizando um arsenal de marketing focado em expor o passado nebuloso do ex-coach, capitalizando percentuais de intenção de voto com isso. Guilherme Boulos, por sua vez, optou por desmascarar as fake news de Marçal, mas sem dar a ele a relevância central em sua campanha.

Para evitar o mesmo destino enfrentado pela esquerda em 2018 com Bolsonaro, será necessário confrontar Marçal diretamente e lutar no mesmo terreno em que ele se destaca: o das redes sociais e do marketing digital. Ignorar o fenômeno Marçal pode ser um erro fatal para os adversários que desejam evitar um “Bolsonaro 2.0”.

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