Questões climáticas, produtividade das aves e alto preço da saca de milho estão entre as justificativas da alta dos custos de produção nacionalmente
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Priscilla Melo/DP Foto
A disparada no preço dos ovos em fevereiro foi sentida pelos pernambucanos nas prateleiras dos mercados. No Recife, a caixa com 30 dúzias de ovos brancos teve um aumento médio de 73,58% no valor para o revendedor, pesando também no bolso do consumidor.
O súbito aumento nos preços do alimento não possui uma única causa, mas o resultado do somatório de um conjunto de fatores – de ambientais a econômicos.
De acordo com o presidente do Instituto Ovos Brasil, Edival Veras, o valor de mercado pode ser justificado pela alta no preço das carnes e outras proteínas, aumentando a demanda pelo ovo como uma alternativa mais acessível.
Além disso, a saca de milho, principal insumo da produção avícola, também ficou 30% mais caro desde julho de 2024. O impacto não foi imediato, mas o aumento do custo de produção acabou sendo repassado ao consumidor.
As mudanças climáticas também influenciaram a crise. As temperaturas elevadas reduziram a produtividade das aves, que se alimentam menos e põem menos ovos.
“Estamos no verão. A temperatura sobe muito e as aves diminuem o consumo de ração e a produção de ovos. Quando isso ocorre, diminui a oferta. Ao longo de um ano, também houve o aumento no preço do dólar, que impacta todo nosso trabalho. Alimentamos as aves a partir de milho, de soja, que também viram aumento nos últimos 30 dias”, explicou Veras.
Preços
Em nível nacional, a bandeja de ovos alcançou seu valor médio mais alto dos últimos 22 meses no Brasil, afetando especialmente as regiões produtoras. Um dos principais fornecedores de ovos do país, Pernambuco representa 7,89% da produção avícola nacional.
De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea - Esalq/USP), 30 dúzias de ovos brancos estavam custando R$ 129,31 no dia 20 de janeiro deste ano. Na última quarta-feira (19), chegou a R$ 224,46. Na mesma janela de um mês, os ovos vermelhos saltaram de R$ 143,62 para R$ 241,94 – uma diferença de 68,46%.
Procurado pela reportagem, o secretário-executivo de Promoção dos Direitos do Consumidor do estado, Anselmo Araújo, informou que o Procon de Pernambuco ainda não finalizou o levantamento dos preços nos mercados para a cesta básica deste mês. A pesquisa está prevista para começar na próxima semana, e o resultado deve ser divulgado depois do carnaval.
O secretário-executivo reconheceu a alta das bandejas de ovos nos mercados, e orientou o consumidor pernambucano a pesquisar os preços em estabelecimentos variados. A cesta básica do Procon indica duas bandejas de 30 ovos para uma família de quatro pessoas por mês.
“Temos visto, pela imprensa, uma variação grande do preço de ovos. Entretanto, é uma coisa que não podemos controlar, porque não há tabelamento de preço no Brasil. Orientamos o consumidor para que pesquise o preço antes de comprar. É a questão do livre-mercado. O produtor coloca o preço que ele quiser”, disse.
O Diario de Pernambuco também procurou a Associação Pernambucana de Supermercados para falar sobre a disparada dos preços na ponta, mas não obteve resposta até a publicação desta matéria. O espaço segue aberto para uma declaração da entidade.
Previsão de redução
Na avaliação de Veras, é difícil saber quando os preços devem cair e em quanto tempo uma melhoria poderia ser vista nos mercados. Mas com o fim do verão na segunda quinzena de março e a queda da temperatura, a produção deve voltar a acelerar.
“Acreditamos que logo teremos uma mudança climática para temperaturas mais amenas, que deve aumentar a produção. O produtor brasileiro também vem tentando crescer a produção para atender a demanda. Não é a curto prazo, mas vem acontecendo ao longo de 2024, e deve aumentar a oferta de ovos”, afirmou.
Não há, entretanto, expectativa para melhoria de todos os fatores que influenciam os custos de produção – em especial, o milho, que deve seguir em alta. “O dólar atenuou, mas estamos no período de entressafra do milho, e não tem expectativa de baixar”, disse Veras.
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