Peça orçamentária aprovada pelo Congresso eleva em quase 7 mil o número de cargos que devem ser abertos pela União para reposição urgente de mão de obra. Especialistas acreditam que 80 mil oportunidades sugirão ao longo do ano em todo o país
Há notícias excelentes para o grande contingente de pessoas, jovens ou maduras, desempregadas ou insatisfeitas, desejosas de abraçar uma carreira no serviço público. A aprovação da Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2017 aumentou em quase 7 mil os cargos que deverão ser preenchidos por concursos, para reposição urgente de mão de obra na máquina federal. A previsão inicial do Ministério do Planejamento era de realizar certames para preencher cerca de 13 mil vagas apenas na esfera federal.
Não se deve esquecer as inúmeras vagas na mira dos cursinhos preparatórios, que dão como certa a abertura de seleções públicas em órgãos importantes das esferas federal, estadual e municipal, tanto no Poder Executivo quanto no Legislativo e no Judiciário. Além disso, há os concursos em processos já abertos no país prontos para receber inscrições no início do ano. Por isso, e muito mais, os concurseiros podem contar com a abertura de 25 mil (já informadas) e de 80 mil (em perspectiva) oportunidades neste ano, segundo as estimativas de especialistasm Brasília, por exemplo, há novidades recém-anunciadas, como a contratação para mais de 100 cargos na Câmara Legislativa do Distrito Federal, segundo o novo presidente da Casa, deputado Joe Valle (PDT). Ao Correio, ele justifica que as novas contratações são necessárias por “ter muita gente se aposentando, e porque, há mais de 10 anos, a Câmara não admite por concurso”. A chamada para o certame deve ocorrer ainda no primeiro semestre de 2017, indica Valle.
Determinação
Na esperança de que essas milhares de oportunidades sejam abertas rapidamente, Guilherme Werneck, 25 anos, apesar de há dois anos ter sido aprovado no concurso do Ministério da Agricultura, vai sacrificar as férias de janeiro estudando para as provas do Tribunal Regional Federal (TRF) de São Paulo. “Não dá para colocar a ambição no bolso”, diz ele, que retornou à categoria de concurseiro, mesmo trabalhando e estudando Comunicação Organizacional na Universidade de Brasília (UnB).
“Gosto muito do meu trabalho, aprendo bastante a cada dia, viajo, mas me interessei pela área jurídica e estou colocando foco nisso”, diz Werneck, de olho nas altas remunerações e outras vantagens que o Judiciário oferece. Passou no concurso para Agricultura um ano depois de fazer várias provas para cargos em outros órgãos públicos.
Para passar, Werneck tem uma fórmula: uma boa base no preparatório do pré-vestibular pavimentou o caminho das matérias exigidas nos concursos. Ele conta que mergulhou a cara nos livros e ficou bem conhecido dos porteiros da Biblioteca Machado de Assis, no centro de Taguatinga. “O cursinho é bom, mas a questão mesmo é você esquentar o banco e estudar”, continua. Chegou a trancar a UnB por seis meses para focar nos concursos. E valeu. “Tem que ter dedicação, deixar a preguiça de lado, pegar as matérias, acompanhar o edital certinho e meter as caras, sacrificando baladas e qualquer vida social”, aconselha.
Algumas propostas do governo, no entanto, enchem o horizonte de quem quer entrar no funcionalismo de incertezas, como a emenda constitucional promulgada, limitando os gastos públicos pelos próximos 20 anos à correção inflacionária, a PEC do Teto, e a proposta de reforma previdenciária. Mas analistas afirmam que a esperança não deve ser perdida, pois 2017 “será favorável”, uma vez que, “mesmo em tempo de escassez, surgem oportunidades imperdíveis”.
O concurseiro não deve se curvar ao pessimismo. 2017 será, sim, um ano promissor, com abertura de novas vagas no serviço público. Essa é a visão de quem está bem ambientado no mundo dos concursos, como o advogado Max Kolbe, que trocou a sala de aula do cursinho pela advocacia há apenas três anos. “Sempre haverá concurso público”, vaticina ele, lembrando que, mesmo com a medida do teto para os gastos pela inflação, o aperto nas finanças federais só começará em 2018.
Para este ano, a regra será adicionar crescimento de 7,2% nas despesas do Orçamento da União, bem acima da taxa de 6,40% prevista pelo boletim semanal Focus, do Banco Central, para 2016. “Há muitas oportunidades. A pessoa que quer, realmente, abraçar a carreira pública não deve desanimar”, reforça o professor Gabriel Granjeiro, presidente do Grancursos On-line. “Quando se olha o espectro do Brasil como um todo, há inúmeras oportunidades”, continua, ressaltando que se mantém forte o interesse pelos concursos, com aumento significativo das inscrições para estudos on-line, via internet.
Mesmo se aprovada a proposta de reforma da Previdência Social, que amplia a idade mínima de 60 para 65 anos, nada deve mudar na cabeça de quem aposta no futuro como servidor público, acredita Granjeiro. “O jovem já sabe que vai ter que trabalhar mais para ter acesso à seguridade, já tem essa mentalidade, porque é uma tendência mundial, e vários países vêm adotando políticas de alongamento da idade para se aposentar”, explica ele, lembrando a carreira militar se tornou mais atrativa pelo fato de ficar de fora da mudança.
Reposição
“A necessidade de mão de obra vai sempre existir na esfera pública e um mínimo de contratações é coisa certeira”, diz o advogado Carter Batista, apesar de ponderar que “a crise traz ventos nem tão favoráveis”. As medidas de controle de despesas do governo, segundo ele, “dão alerta à população para pensar, rever ou fazer novos planos de carreira.”
Na avaliação de Kolbe, a PEC do Teto dos gastos públicos não impedirá novos concursos porque cada órgão público vai continuar pedindo reposição de pessoal, porque surgem as necessidades. “Temos que ser otimistas. O concurseiro tem que olhar para frente.”
Para Anderson Ferreira, coordenador do IMP e professor de orçamento público, “o ano de 2017 vai ser melhor”. Ele destaca que, desde 2013, o cenário dos concursos foi alterado, a oferta diminuiu, “mas, mesmo assim, tivemos concursos todos os anos, inclusive em 2016. O serviço público não pode parar, tem que contratar”, afirma.
A elevada demanda por concursos entre o público brasiliense reflete a busca por segurança dos estudantes, segundo Roberto Piscitelli, professor da UnB. “Em época de crise, todo mundo quer se agarrar a alguma coisa, e o setor público sempre se apresenta como uma válvula de escape, principalmente em Brasília, onde não tem grandes empresas”, diz.
“A necessidade de mão de obra vai sempre existir na esfera pública e um mínimo de contratações é coisa certeira”
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