Segundo um assessor palaciano, o presidente classificou nos bastidores a operação desta quarta como "ilegal" e "despropositada"
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BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) relatou a aliados um temor de que seu filho Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), vereador no Rio de Janeiro, torne-se o próximo alvo de uma operação do inquérito do STF (Supremo Tribunal Federal) que investiga o esquema de fake news.
Na visão do presidente, na manhã desta quarta-feira (27) ocorreu justamente o que vinha lhe dando preocupação desde o fim de semana: uma ação que atingisse seus aliados.
Ao determinar medidas contra políticos, empresários e ativistas bolsonaristas nesta quarta, o ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito, citou a suspeita de participação do chamado gabinete do ódio – grupo de servidores lotados na Presidência da República.
Depoimentos de deputados federais descreveram, segundo a decisão de Moraes, um suposto esquema coordenado pelo Palácio do Planalto para propagar pautas antidemocráticas e campanhas de difamação contra adversários políticos.
Um dos relatos transcritos na decisão é o de Heitor Freire (PSC-RJ), que menciona diretamente assessores do "gabinete do ódio" da Presidência, tutelado e idealizado por Carlos Bolsonaro.
Segundo um assessor palaciano, o presidente classificou nos bastidores a operação desta quarta como "ilegal" e "despropositada".
Apesar do revés, houve alívio no Palácio do Planalto pelo fato de, neste momento, Carlos Bolsonaro não estar entre alvos da ação policial.
Ele é visto, no entanto, como um possível próximo, o que tem causado preocupação em Bolsonaro.
O jornal Folha de S.Paulo mostrou no dia 25 de abril que as investigações identificaram indícios dele no esquema de notícias falsas. O inquérito busca elementos que comprove sua ligação e sustente seu possível indiciamento dele ao fim das apurações.
Nesta quarta, com aval de Moraes, a PF cumpriu mandados de busca e apreensão que tiveram como alvos aliados do presidente.
Bolsonaro e seus auxiliares próximos avaliam que a operação deflagrada nesta quarta é uma retaliação aos ataques feitos ao Supremo pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub, durante a reunião ministerial em 22 de abril.
Em conversas reservadas, o presidente reconhece que a declaração feita por seu auxiliar era grave e que uma resposta viria em breve. Para tentar evitá-la, Bolsonaro divulgou na segunda (25) uma nota pública defendendo a independência e harmonia entre os três poderes.
Enquanto a PF estava nas ruas, Bolsonaro deixou o Palácio da Alvorada logo cedo e seguiu para o hospital onde o presidente do STF, Dias Toffoli, está internado.
Segundo relatos feitos à reportagem, tratou-se de uma visita de cortesia. Bolsonaro já havia manifestado interesse em visitar o ministro, mas aguardava permissão da equipe médica. A visita durou menos de meia hora.
Esta não é a primeira vez que o presidente deixa o Palácio para visitar integrantes do Judiciário em meio a um fogo cruzado com o Supremo.
Uma ida dele sem aviso à corte, há algumas semanas, foi avaliada em Brasília como um recado de que ele não se dobrará ao judiciário. Na segunda, ele foi à PGR (Procuradoria-Geral da República) também de surpresa, num momento em que a instituição avalia uma possível denúncia contra ele sobre acusações feitas pelo ex-ministro Sergio Moro.
Os mandados de busca e apreensão atingem nomes como o ex-deputado federal Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB e o dono da Havan, Luciano Hang.
O foco da Polícia Federal é um grupo suspeito de operar uma rede de divulgação de notícias falsas contra autoridades.
Para ministros do governo, o momento de deflagar a operação, cinco dias após a divulgação do vídeo da reunião, é sinal de que se trata de uma resposta de insatisfação do STF.
O recado que chegou ao Palácio do Planalto é de que os integrantes da corte se irritaram com o fato de Bolsonaro não ter feito uma reprimenda pública a Weintraub.
No encontro, cujas imagens foram divulgadas na última sexta (22) pelo ministro do STF Celso de Mello, Weintraub disse que, se dependesse dele, colocaria "esses vagabundos todos na cadeia", começando pelo Supremo. A declaração piorou a relação já conturbada entre Executivo e Judiciário.
No início do ano, em conversa relatada ao jornal Folha de S.Paulo, o presidente já demonstrou temor de que a Polícia Federal avance sobre o filho 02, como ele o chama.
Para assessores presidenciais, o perfil explosivo de Carlos preocupa. Ele e o pai têm uma relação de proximidade e, ao mesmo tempo, uma série de confrontos.
Por diversas vezes o vereador deixa de falar com o presidente quando há desentendimentos. Quando isso ocorre, ele costuma desligar o telefone e se isolar em um clube de tiro em Santa Catarina.
Bolsonaro, dizem aliados de longa data, teme que o filho possa agir de forma desastrosa por ver nele instabilidade emocional.
Na manhã desta quarta, Carlos levantou suspeita nas rede sociais sobre os motivos da operação.
"O que está acontecendo é algo que qualquer um desconfie que seja proposital. Querem incentivar rachaduras diante de inquérito inconstitucional, político e ideológico sobre o pretexto de uma palavra politicamente correta? Você que ri disso não entende o quão em perigo está", escreveu sua conta do Twitter.
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