quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

Metrô do Recife une João Campos e Raquel Lyra em agenda com Lula

Foto: Divulgação

Por Edmar Lyra

A decisão do governo federal de investir na modernização do metrô do Recife recoloca um velho problema da mobilidade urbana no centro do tabuleiro político pernambucano. O Acordo de Cooperação Técnica firmado entre a União e o governo de Pernambuco prevê investimentos de R$ 4 bilhões nos cinco primeiros anos após a assinatura do contrato de concessão, dentro do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), e sinaliza que o sistema, por décadas marcado pelo abandono, passa a integrar uma agenda estratégica nacional. Mais do que trilhos e trens, o projeto envolve protagonismo político, divisão de responsabilidades e expectativas eleitorais.

O desenho institucional revela essa complexidade. O acordo estabelece as bases para a transferência dos ativos da CBTU ao governo estadual, enquanto a estruturação técnica ficará a cargo do BNDES, instituição que costuma dar lastro técnico e financeiro a grandes projetos de infraestrutura. A licitação será acompanhada pelo Ministério das Cidades e pela Casa Civil, o que demonstra o interesse direto do Planalto em manter o metrô do Recife como uma vitrine do PPI, especialmente no Nordeste, onde obras de mobilidade têm alto impacto social e político.

No plano estadual, o metrô tem dono político claro. Desde a campanha eleitoral, a governadora Raquel Lyra prometeu que cuidaria pessoalmente do sistema, transformando o tema em um compromisso público. Ao assumir esse protagonismo, Raquel atrela sua imagem a uma agenda sensível para a população da Região Metropolitana. As medidas iniciais anunciadas — R$ 57 milhões até dezembro de 2026 para obras civis, recuperação de coberturas e melhorias nas condições de conforto e segurança das estações — cumprem o papel de resposta imediata a um serviço degradado. A incorporação de 11 trens à frota, por aquisição ou transferência de outras unidades da CBTU, segue a mesma lógica: mostrar que algo começa a mudar no curto prazo.

Mas o jogo político não se limita ao Palácio do Campo das Princesas. O prefeito do Recife, João Campos, comanda a cidade onde o metrô tem maior abrangência e concentra a maior parte de seus usuários. Embora o sistema não seja de gestão municipal, seus efeitos recaem diretamente sobre a capital, seja na fluidez do trânsito, seja na rotina de quem depende do transporte público. Qualquer avanço no metrô impacta positivamente a cidade administrada por João; qualquer frustração também respinga. Por isso, mesmo sem o controle formal, o prefeito é um ator interessado no sucesso da iniciativa.

O horizonte de longo prazo é ambicioso. O contrato de concessão terá duração de 30 anos e prevê, entre os principais investimentos, a compra de 18 novos trens e quatro VLTs. A promessa é ampliar a capacidade do sistema, aumentar a regularidade das viagens e elevar o padrão de atendimento. Se executado como planejado, o metrô pode voltar a cumprir um papel estruturador na mobilidade da Região Metropolitana do Recife.

No fim, o metrô deixa de ser apenas um problema crônico de infraestrutura e se transforma em um teste político. Para o governo federal, é uma vitrine do PPI; para Raquel Lyra, uma promessa de campanha colocada à prova; e para João Campos, um fator decisivo na qualidade urbana da capital. O sucesso ou o fracasso desse projeto será medido não apenas nos trilhos, mas também no capital político acumulado ao longo do caminho. 

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