segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

O freio de arrumação de Bolsonaro

 

Foto: Divulgação

Por Edmar Lyra

A movimentação no entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro ganhou novos contornos na última sexta-feira, quando o senador Flávio Bolsonaro afirmou ter sido escolhido pelo pai para disputar a Presidência da República. A declaração, embora ruidosa, diz mais sobre o xadrez interno do bolsonarismo do que propriamente sobre o cenário eleitoral de 2026. Em condições normais, a escolha de Flávio poderia até soar natural — afinal, ele é o herdeiro político mais próximo do ex-presidente. Mas o movimento ignora duas variáveis centrais: Flávio está em pleno mandato no Senado e, sobretudo, há um presidente buscando reeleição dentro do campo político, caso se confirme o cenário de prisão de Jair Bolsonaro e consequente impedimento de sua candidatura.

A escolha também não assegura sua vitória nacional e, de quebra, coloca em risco uma reeleição bem encaminhada ao Senado pelo Rio de Janeiro. O gesto, portanto, mais complica do que resolve. Ainda assim, não está descartada a possibilidade de Flávio alcançar um segundo turno — ele herdaria apelo eleitoral, densidade de voto e estrutura. Porém, ao fazê-lo, implodiria projetos considerados mais competitivos pela própria direita, especialmente a candidatura do governador Tarcísio Gomes de Freitas, hoje visto como o nome mais viável para enfrentar o campo governista em 2026.

O gesto de Flávio, contudo, não deve ser lido apenas pela ótica eleitoral. Há um componente estratégico evidente: o movimento funcionou como um freio de arrumação. Internamente, aliados de Bolsonaro avançavam em discussões sobre uma chapa presidencial sem sequer considerar o bolsonarismo para a vice-presidência. A intervenção do senador, portanto, reorienta o debate e recoloca o clã no centro das articulações, onde sempre fez questão de estar.

O episódio recente no Ceará exerceu papel semelhante nesse processo de reorganização. A declaração de Michelle Bolsonaro, em tom presidencial, não foi bem digerida pelos filhos do ex-presidente. O clã, de forma reservada, enxerga Michelle apenas como uma opção competitiva ao Senado pelo Distrito Federal — nada além disso. Mas sua postura pública destoou desse alinhamento, e o recado interno foi rápido e duro: não há espaço para outra postulante ao Planalto que não seja referendada diretamente pelo núcleo familiar.

A fala de Flávio no domingo, admitindo a possibilidade de retirar sua pré-candidatura mediante negociação, reforça a tese de que o anúncio inicial serviu mais como “bode na sala” do que como lançamento efetivo. Bolsonaro, mesmo preso, tenta calibrar sua influência. O jogo passa não só pela busca de anistia, mas pela manutenção de seu peso político. Ele precisa deixar claro que, apesar da situação jurídica delicada, continua sendo o centro gravitacional da direita brasileira — capaz de estimular, desmontar ou remodelar candidaturas conforme sua conveniência.

Em síntese, a suposta escolha de Flávio para a Presidência não deve ser lida como um fato consumado, mas como demonstração de força. Um aviso ao seu grupo, ao seu campo político e até à sua família: sem Bolsonaro, nada se decide. E enquanto essa máxima prevalecer, o tabuleiro seguirá girando ao seu redor — mesmo atrás das grades.

Vestindo a roupa – O prefeito do Recife, João Campos, decidiu seguir um script mais claro de pré-candidato a governador no final de semana. Ele foi ao Morro da Conceição acompanhado de Marília Arraes, Miguel Coelho e Silvio Costa Filho, esteve em Cupira com os mesmos aliados e o presidente da Alepe, Álvaro Porto, e em Araripina com o prefeito Evilásio Mateus.

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