segunda-feira, 22 de dezembro de 2025

O duelo dos filhos de 2006

 

Foto: Ricardo Stuckert

Por Edmar Lyra

Em 2026, Pernambuco completará 20 anos de uma das eleições mais simbólicas de sua história recente: a vitória de Eduardo Campos ao governo do Estado, tendo João Lyra Neto como vice. Aquele pleito não representou apenas uma alternância de poder, mas inaugurou um ciclo político que moldaria o Estado por quase duas décadas, consolidando o PSB como força hegemônica e projetando lideranças que extrapolaram as fronteiras pernambucanas. Duas décadas depois, o calendário eleitoral parece conspirar para um novo capítulo igualmente histórico — agora protagonizado pelos filhos da chapa vitoriosa de 2006: João Campos e Raquel Lyra.

Desde a ascensão de Eduardo, o PSB venceu quatro disputas consecutivas pelo Palácio do Campo das Princesas, estabelecendo uma hegemonia rara na política brasileira contemporânea. Esse ciclo, no entanto, foi interrompido em 2022, quando Raquel Lyra, ex-filiada ao PSB e ex-secretária do próprio Eduardo Campos, rompeu o domínio socialista ao se eleger governadora pelo PSDB. Não foi apenas uma vitória eleitoral, mas um gesto simbólico de ruptura com um modelo de poder que parecia imbatível.

Raquel Lyra chegou ao governo estadual após duas gestões bem avaliadas à frente da Prefeitura de Caruaru, repetindo um caminho clássico da política pernambucana: a projeção municipal como trampolim para o Executivo estadual. Curiosamente, é o mesmo roteiro percorrido por seu provável adversário em 2026, João Campos, eleito e reeleito prefeito do Recife com ampla aprovação popular e forte capacidade de comunicação com o eleitorado urbano.

A polarização entre a governadora e o prefeito do Recife já está dada. Não há, até aqui, um terceiro nome capaz de romper essa lógica binária ou de oferecer uma alternativa eleitoral competitiva. Tudo indica que Pernambuco assistirá a um embate clássico, de alto nível político, com narrativas bem definidas e raízes profundas na história recente do Estado. Se em 2006 Eduardo Campos plantou a semente que faria germinar lideranças como João Campos e Raquel Lyra, em 2026 o eleitor será chamado a decidir qual dessas árvores dará sombra ao próximo ciclo político.

O peso simbólico dessa disputa é enorme. Uma eventual vitória de Raquel Lyra representaria a consolidação definitiva de seu governo e de seu estilo próprio de fazer política, marcado por uma tentativa de ruptura com práticas tradicionais e pela afirmação de uma liderança feminina em um ambiente historicamente masculino. Mais do que isso, a reeleição a projetaria como um quadro com potencial nacional, ampliando sua influência para além das fronteiras estaduais.

Por outro lado, uma vitória de João Campos significaria o início de um novo ciclo de hegemonia, agora sob a liderança da terceira geração de uma família que mudou para sempre a história política de Pernambuco. Seria a continuidade de uma linhagem iniciada por Miguel Arraes, consolidada por Eduardo Campos e, então, renovada por João, com um discurso adaptado aos novos tempos, mas ancorado em uma tradição política profundamente enraizada no Estado.

Vinte anos depois de Eduardo, Pernambuco volta a se olhar no espelho da própria história. A eleição de 2026 não será apenas uma disputa entre dois nomes fortes, mas um divisor de águas capaz de redefinir rumos, hegemonias e lideranças. A sorte está lançada.

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