Com a proposta de reforma da Previdência, enviada ao Congresso Nacional pelo presidente Michel Temer, muita gente já pensa em uma alternativa para garantir uma aposentadoria mais tranquila e com uma fonte de renda suficiente para manter o padrão de vida. Para quem acha exagerada a idade mínima de 65 anos para se aposentar, ou vê o descanso remunerado mais distante por conta da exigência de 49 anos de contribuição para obter o benefício integral, como prevê a nova regra, os planos de aposentadoria privada podem ser o caminho da tranquilidade na velhice.
Mas, para aderir a esse tipo de serviço, é necessário ficar bem atento aos preços, às vantagens e às possibilidades de receber o dinheiro investido. Ao contrário da contribuição que é feita ao INSS, nesse tipo de previdência é possível até mesmo sacar o dinheiro investido a qualquer momento, de acordo com o desejo do cliente. O tempo de contribuição, o valor investido e as taxa cobradas também são fundamentais para definir qual será o montante do benefício na aposentadoria.
É preciso, por exemplo, ficar de olho nas taxas de administração cobradas pelos bancos, que variam de 0,3% a 3% sobre o montante investido (veja arte). Especialistas afirmam que devem ser evitados planos que cobram taxas acima de 1%, porque elas comem grande parte da remuneração obtida com a aplicação dos recursos.
Preocupações
O professor Roberto Bocaccio, do Departamento de Ciências Contábeis e Atuariais da Universidade de Brasília, acredita que a reforma da Previdência pública pode atrair mais pessoas para a contratação de planos privados de aposentadoria. Mas isso, segundo ele, não deve resolver o problema das famílias mais carentes.
“Muita gente já tem planos de previdência privada, seja aberta ou fechada. A reforma da Previdência, como está sendo proposta pelo governo, vai trazer muito mais preocupações para as pessoas. A tendência é que mais gente complemente a aposentadoria com o plano privado. Mas quem pode ir para a previdência privada é uma pequena casta da sociedade brasileira. Os planos ainda são caros, tendo em vista a renda da população; as pessoas com menor poder aquisitivo continuam dependendo do serviço do INSS e são as mais prejudicadas”, ressalta Bocaccio.
Os planos privados de aposentadoria são uma opção voluntária para quem quer ter uma aposentadoria maior que a oferecida pelo INSS. O valor a ser recebido no futuro pode complementar a previdência pública e o cliente pode escolher, na hora da contratação do serviço, por quanto tempo quer receber o benefício após se aposentar, ou, ainda, optar por ter uma aposentadoria vitalícia. Tudo isso vai interferir no valor das mensalidades. Também é possível pagar uma quantia única e sacar o valor em forma de salário mensal, ou de uma vez, ao se aposentar.
A jornalista Cristina Honfi conta que a família toda aderiu a uma aposentadoria privada após ver a mãe dela se beneficiar desse tipo de escolha. “Eu contribuo com a previdência privada há seis anos. A minha mãe contribuiu durante 32 anos com o INSS e não conseguiu o teto de aposentadoria previsto, mesmo tendo um salário relativamente alto. Mas, graças ao plano privado que ela contratou, hoje recebe um complemento de R$ 5 mil, o que dá uma aposentadoria confortável. Após ver que isso deixa nossa expectativa pela terceira idade mais tranquila, eu passei a adotar um plano em 2010. Comecei pagando R$ 100 e escolhi fazer uma contribuição crescente. Hoje recolho uma mensalidade de R$ 140 e pretendo elevar esse valor para receber mais no final.”
A previdência privada ainda é uma realidade distante das possibilidades orçamentárias da maioria dos brasileiros. Apenas de 15% a 20% da população têm condições de fazer um plano desse tipo, calcula o professor de Economia da UnB José Matias-Pereira. “As pessoas deveriam pelo menos refletir sobre essa possibilidade, que é uma forma de olhar para o futuro. Temos que pensar na magnitude da reforma previdenciária proposta pelo governo federal.”
O professor alerta que as mudanças podem provocar uma fuga da previdência pública. “Se for aprovada como está, com o tempo, o que veremos é uma fuga da previdência oficial por quem pode fazer isso, como os contribuintes autônomos. Do jeito como foi apresentada, a nova legislação referente à Previdência pode piorar a situação dos segmentos mais frágeis da população. É preciso ouvir tanto o lado técnico quanto os anseios das pessoas mais impactadas”, pondera José Matias-Pereira.
Poupança prolongada
Sem se ater a siglas e nomes técnicos mais do que sua profissão exige, a médica cardiologista Bianca Rocha de Melo, 32 anos, não sabe qual o regime da previdência privada que possui desde os 15 anos. “Sei que posso optar por receber o valor integralmente ou uma quantia fixa todo mês”, resume a médica, que sempre conviveu com a preocupação dos avós em garantir um futuro financeiro tranquilo para todo o grupo familiar.
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