sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

"Rollemberg me tratou como inimigo mortal", diz Joe Valle ao Correio

Em entrevista, presidente eleito da Câmara Legislativa do DF fala sobre a disputa na Casa e sobre os desafios que enfrentará no próximo ano

Em meio a uma crise que abateu o mundo político, o deputado Joe Valle (PDT), em seu segundo mandato parlamentar, teve um ano promissor. Elegeu-se presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do DF e derrotou o grupo do governador Rodrigo Rollemberg (PSB), numa disputa voto a voto, para assumir o comando da Câmara Legislativa. Foi uma vitória no último minuto. Poucos apostavam em sucesso. Nem ele. Desde então, Joe não parou de fazer reuniões com entidades do setor produtivo e com políticos. Esteve três vezes com Rollemberg.

Acredita ter sido alvo de um jogo pesado por parte do Executivo. Chega a dizer que poderia ter se tornado “inimigo mortal” de Rollemberg. Apesar do embate com o governador, a quem acusa de praticar a “velha política”, o novo presidente da Câmara garante que não usará o poder Legislativo para fazer oposição. 

Aos 52 anos, Joe é proprietário da Malunga, a maior produtora de hortaliças orgânicas da América Latina. Mas os dois próximos anos serão dedicados à construção de um novo patamar de seu mandato. Ele tem planos para o Palácio do Buriti, a médio prazo, e admite que, se as condições surgirem, será candidato. “Não quero ser governador. Eu quero governar. Não adianta ser governador e não governar, olha o exemplo do Rodrigo”, afirma. 

No próximo ano, Joe vai conduzir a pauta de votações num momento em que, mais uma vez, a questão fundiária estará em destaque. A Lei de Uso e Ocupação do Solo (Luos), o Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico (PPCub) e o Zoneamento Ecológico e Econômico (ZEE) serão temas em debate. A meta do novo presidente, que toma posse no primeiro dia de 2017, é “ressignificar” a Câmara. Ele usa o termo para explicar que seu projeto é mostrar à população que o Legislativo funciona e é importante. Uma tarefa difícil, depois de escândalos, como a Operação Drácon, que não devem dar trégua no próximo ano.

Qual é o seu principal objetivo ao assumir a Presidência da Câmara?

É ressignificar a Câmara para o cidadão brasiliense, mostrando que essa é uma ferramenta da democracia extremamente importante. E como as pessoas não acreditam mais em nada, elas não conseguem enxergar o papel de um legislativo. Quando eu falo ressignificar é porque a Câmara já teve um significado na vida das pessoas e foi perdendo ao longo do tempo. Quero fazer essa ressignificação. Para desenvolver uma relação de pertencimento da Câmara para o povo. Ou seja, as pessoas sentirem que a Câmara pertence a esse processo da democracia. 

A Câmara são 24 deputados. O senhor, embora seja o presidente, é apenas um. Acredita que conseguirá atingir esses objetivos?

Esse é o grande desafio, buscar unidade naquela grande diversidade. Mas, apesar da grande diversidade cultural, todos querem a mesma coisa, querem ser felizes. Isso está na base, no cerne de todos os mandatos. Quero resgatar isso.

Essa tarefa não é árdua, principalmente depois de um ano de denúncias que derrubaram a Mesa Diretora e levantaram suspeitas graves envolvendo cinco deputados? 

Muito difícil mesmo. Se não fosse assim, não seria um desafio, seria apenas a passagem do bastão. Mas não é. É por isso que nesse momento a Câmara precisa do apoio de todo mundo. 

Em termos práticos, o que é ressignificar?

É trazer as pessoas para perto.


Muitos presidentes disseram a mesma coisa, de outra forma. O que será diferente na sua gestão?

Um modelo de gestão completamente transparente, para que as pessoas se sintam pertencentes, sabendo de tudo o que está acontecendo. Nós vamos inclusive inaugurar um grande painel, com todo o orçamento da Câmara e colocar alguns totens em lugares em que as pessoas terão acesso. Vamos traduzir o orçamento e as ações da Câmara em linguagem popular. Tudo isso com metodologia, com equipamento, com transparência, para que as pessoas saibam o que acontece lá e quanto custa. Vamos fazer uma Câmara de qualidade, de excelência e transparente, dando ênfase ao setor produtivo. É a base de onde se geram os impostos para que a gente consiga um trabalho de austeridade.

Existiu algum acordo na campanha para livrar os deputados denunciados na Operação Drácon de algum eventual pedido de 
cassação de mandato?

O grande acordo que foi feito é que o nosso piso é a legalidade. Da legalidade para cima podemos construir tudo. Da legalidade para baixo não podemos construir absolutamente nada. Nem um fio de cabelo. E os deputados toparam. O que a gente precisa fazer é separar a questão da instituição. As pessoas já estão respondendo a processos, estão com as suas vidas conturbadas. Já buscam resolver e isso é uma questão do indivíduo deputado. Não é uma questão da Câmara Legislativa. A instituição está muito além disso. 


No momento da eleição, quando o deputado Robério Negreiros mudou o voto, o deputado Agaciel Maia disse que o senhor era um laranja da deputada Celina Leão. Sentiu-se ofendido?

Não. Foi no calor da derrota. A gente tem que se preparar para perder e ganhar. Quando só nos preparamos para ganhar, isso normalmente nos desequilibra. Como sei que o deputado Agaciel Maia é uma pessoa muito madura, tanto que era a escolha do governador para fazer esse trabalho na Câmara, sei que, como a máquina do governo o ajudou tanto, ele estava certo de que ganharia. Mas eleição só termina quando acaba, e ele perdeu.  Mas eu o respeito. 
 
"O grande acordo que foi feito é que o nosso piso é a legalidade. Da legalidade para cima podemos construir tudo. Da legalidade para baixo não podemos construir absolutamente nada” 
 

Por que o governador Rodrigo Rollemberg fez a escolha por Agaciel?

Foi uma escolha pessoal. A princípio, ele imaginou que eu não tinha capacidade de fazer uma Câmara do jeito que ele queria. E a nossa proposta sempre foi autonomia, com harmonia. Agora, nós temos que tomar muito cuidado porque, se a gente carrega muito na autonomia, pode estar fazendo uma oposição sistemática no processo. E se carrego muito na harmonia, posso estar sendo subserviente. 

O governador e o senhor são do mesmo campo político, tiveram parcerias. Ele mesmo diz que são amigos. O senhor ficou frustrado quando soube que ele não apoiaria a sua candidatura?

Eu já vinha de uma outra eleição em que ele já tinha feito uma escolha pela Celina Leão e eu tinha sido relegado, mesmo sendo o nome do partido. Causa um sentimento de estranheza, um sentimento ruim, mas logo superado porque a gente entendeu que fazia parte da disputa. Ele fez a escolha pessoal e a escolha partidária.


Mas por que o governador escolheu o candidato de um partido de oposição a ele, de José Roberto Arruda e de Jofran Frejat?

Essa explicação ele vai ter que dar porque ninguém entendeu.


Por mais que vocês tenham uma história política próxima, há também uma relação conflituosa. Por exemplo, o senhor quase foi expulso do PSB sob acusação de ser próximo ao PT... Por que há tantos conflitos?

Olha, preciso também perguntar para o Rodrigo. Tenho uma característica, não sou uma pessoal tão fácil, tenho minhas opiniões próprias. Sou muito decidido e tenho conceitos claros. Não sou volúvel e quem geralmente não gosta de pessoa com opinião não gosta de mim. Os políticos mais experientes precisam ouvir mais e entender que, apesar da experiência, a gente está sempre aprendendo. Aprendi que a política tem três pilares. O primeiro é que ela tem fila, mas a fila anda. Segundo, a política tem rito próprio do acordo. O acordo que precisar ser escrito não é acordo da política. Se você faz um acordo, tem que cumprir. E o terceiro, talvez o mais importante, é que a política se constrói com gestos. Estou tentando seguir essas três coisas e os políticos estão esquecendo delas. Por isso existe tanta crise. 


Teve troca de cargos no governo por votos nessa campanha?

Não deve ter acontecido muito porque ele perdeu. Não deu certo. Isso mostra uma maturidade do Legislativo. Vamos analisar: por que o governador, mesmo entrando fortemente nesse mundo da política velha, de fazer esse tipo de relação, que acho que está completamente errada, perde uma eleição para alguém que não tem absolutamente nada a oferecer, além de um compromisso de trabalho e respeito aos deputados? 

O governador fez a política velha?

Fez. Rodrigo praticou a política velha nessa eleição. Definitivamente praticou.

E tem praticado no governo dele?

Uma parte ele pratica. Uma parte não pratica. Agora, de verdade, acho que estamos numa transição e é papel dele fazer uma transição da política velha para a nova. Eu lembro quando conversei com o governador, disse que entendo todas as relações da campanha, se ele quiser fazer na Câmara, não tem problema, mas se quisesse fazer diferente, eu era soldado, inclusive para morrer abraçado.Em meio a uma crise que abateu o mundo político, o deputado Joe Valle (PDT), em seu segundo mandato parlamentar, teve um ano promissor. Elegeu-se presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do DF e derrotou o grupo do governador Rodrigo Rollemberg (PSB), numa disputa voto a voto, para assumir o comando da Câmara Legislativa. Foi uma vitória no último minuto. Poucos apostavam em sucesso. Nem ele. Desde então, Joe não parou de fazer reuniões com entidades do setor produtivo e com políticos. Esteve três vezes com Rollemberg.

Acredita ter sido alvo de um jogo pesado por parte do Executivo. Chega a dizer que poderia ter se tornado “inimigo mortal” de Rollemberg. Apesar do embate com o governador, a quem acusa de praticar a “velha política”, o novo presidente da Câmara garante que não usará o poder Legislativo para fazer oposição. 

Aos 52 anos, Joe é proprietário da Malunga, a maior produtora de hortaliças orgânicas da América Latina. Mas os dois próximos anos serão dedicados à construção de um novo patamar de seu mandato. Ele tem planos para o Palácio do Buriti, a médio prazo, e admite que, se as condições surgirem, será candidato. “Não quero ser governador. Eu quero governar. Não adianta ser governador e não governar, olha o exemplo do Rodrigo”, afirma. 

No próximo ano, Joe vai conduzir a pauta de votações num momento em que, mais uma vez, a questão fundiária estará em destaque. A Lei de Uso e Ocupação do Solo (Luos), o Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico (PPCub) e o Zoneamento Ecológico e Econômico (ZEE) serão temas em debate. A meta do novo presidente, que toma posse no primeiro dia de 2017, é “ressignificar” a Câmara. Ele usa o termo para explicar que seu projeto é mostrar à população que o Legislativo funciona e é importante. Uma tarefa difícil, depois de escândalos, como a Operação Drácon, que não devem dar trégua no próximo ano.

Qual é o seu principal objetivo ao assumir a Presidência da Câmara?

É ressignificar a Câmara para o cidadão brasiliense, mostrando que essa é uma ferramenta da democracia extremamente importante. E como as pessoas não acreditam mais em nada, elas não conseguem enxergar o papel de um legislativo. Quando eu falo ressignificar é porque a Câmara já teve um significado na vida das pessoas e foi perdendo ao longo do tempo. Quero fazer essa ressignificação. Para desenvolver uma relação de pertencimento da Câmara para o povo. Ou seja, as pessoas sentirem que a Câmara pertence a esse processo da democracia. 

A Câmara são 24 deputados. O senhor, embora seja o presidente, é apenas um. Acredita que conseguirá atingir esses objetivos?

Esse é o grande desafio, buscar unidade naquela grande diversidade. Mas, apesar da grande diversidade cultural, todos querem a mesma coisa, querem ser felizes. Isso está na base, no cerne de todos os mandatos. Quero resgatar isso.

Essa tarefa não é árdua, principalmente depois de um ano de denúncias que derrubaram a Mesa Diretora e levantaram suspeitas graves envolvendo cinco deputados? 

Muito difícil mesmo. Se não fosse assim, não seria um desafio, seria apenas a passagem do bastão. Mas não é. É por isso que nesse momento a Câmara precisa do apoio de todo mundo. 

Em termos práticos, o que é ressignificar?

É trazer as pessoas para perto.


Muitos presidentes disseram a mesma coisa, de outra forma. O que será diferente na sua gestão?

Um modelo de gestão completamente transparente, para que as pessoas se sintam pertencentes, sabendo de tudo o que está acontecendo. Nós vamos inclusive inaugurar um grande painel, com todo o orçamento da Câmara e colocar alguns totens em lugares em que as pessoas terão acesso. Vamos traduzir o orçamento e as ações da Câmara em linguagem popular. Tudo isso com metodologia, com equipamento, com transparência, para que as pessoas saibam o que acontece lá e quanto custa. Vamos fazer uma Câmara de qualidade, de excelência e transparente, dando ênfase ao setor produtivo. É a base de onde se geram os impostos para que a gente consiga um trabalho de austeridade.

Existiu algum acordo na campanha para livrar os deputados denunciados na Operação Drácon de algum eventual pedido de 
cassação de mandato?

O grande acordo que foi feito é que o nosso piso é a legalidade. Da legalidade para cima podemos construir tudo. Da legalidade para baixo não podemos construir absolutamente nada. Nem um fio de cabelo. E os deputados toparam. O que a gente precisa fazer é separar a questão da instituição. As pessoas já estão respondendo a processos, estão com as suas vidas conturbadas. Já buscam resolver e isso é uma questão do indivíduo deputado. Não é uma questão da Câmara Legislativa. A instituição está muito além disso. 


No momento da eleição, quando o deputado Robério Negreiros mudou o voto, o deputado Agaciel Maia disse que o senhor era um laranja da deputada Celina Leão. Sentiu-se ofendido?

Não. Foi no calor da derrota. A gente tem que se preparar para perder e ganhar. Quando só nos preparamos para ganhar, isso normalmente nos desequilibra. Como sei que o deputado Agaciel Maia é uma pessoa muito madura, tanto que era a escolha do governador para fazer esse trabalho na Câmara, sei que, como a máquina do governo o ajudou tanto, ele estava certo de que ganharia. Mas eleição só termina quando acaba, e ele perdeu.  Mas eu o respeito. 
 
"O grande acordo que foi feito é que o nosso piso é a legalidade. Da legalidade para cima podemos construir tudo. Da legalidade para baixo não podemos construir absolutamente nada” 
 

Por que o governador Rodrigo Rollemberg fez a escolha por Agaciel?

Foi uma escolha pessoal. A princípio, ele imaginou que eu não tinha capacidade de fazer uma Câmara do jeito que ele queria. E a nossa proposta sempre foi autonomia, com harmonia. Agora, nós temos que tomar muito cuidado porque, se a gente carrega muito na autonomia, pode estar fazendo uma oposição sistemática no processo. E se carrego muito na harmonia, posso estar sendo subserviente. 

O governador e o senhor são do mesmo campo político, tiveram parcerias. Ele mesmo diz que são amigos. O senhor ficou frustrado quando soube que ele não apoiaria a sua candidatura?

Eu já vinha de uma outra eleição em que ele já tinha feito uma escolha pela Celina Leão e eu tinha sido relegado, mesmo sendo o nome do partido. Causa um sentimento de estranheza, um sentimento ruim, mas logo superado porque a gente entendeu que fazia parte da disputa. Ele fez a escolha pessoal e a escolha partidária.


Mas por que o governador escolheu o candidato de um partido de oposição a ele, de José Roberto Arruda e de Jofran Frejat?

Essa explicação ele vai ter que dar porque ninguém entendeu.


Por mais que vocês tenham uma história política próxima, há também uma relação conflituosa. Por exemplo, o senhor quase foi expulso do PSB sob acusação de ser próximo ao PT... Por que há tantos conflitos?

Olha, preciso também perguntar para o Rodrigo. Tenho uma característica, não sou uma pessoal tão fácil, tenho minhas opiniões próprias. Sou muito decidido e tenho conceitos claros. Não sou volúvel e quem geralmente não gosta de pessoa com opinião não gosta de mim. Os políticos mais experientes precisam ouvir mais e entender que, apesar da experiência, a gente está sempre aprendendo. Aprendi que a política tem três pilares. O primeiro é que ela tem fila, mas a fila anda. Segundo, a política tem rito próprio do acordo. O acordo que precisar ser escrito não é acordo da política. Se você faz um acordo, tem que cumprir. E o terceiro, talvez o mais importante, é que a política se constrói com gestos. Estou tentando seguir essas três coisas e os políticos estão esquecendo delas. Por isso existe tanta crise. 


Teve troca de cargos no governo por votos nessa campanha?

Não deve ter acontecido muito porque ele perdeu. Não deu certo. Isso mostra uma maturidade do Legislativo. Vamos analisar: por que o governador, mesmo entrando fortemente nesse mundo da política velha, de fazer esse tipo de relação, que acho que está completamente errada, perde uma eleição para alguém que não tem absolutamente nada a oferecer, além de um compromisso de trabalho e respeito aos deputados? 

O governador fez a política velha?

Fez. Rodrigo praticou a política velha nessa eleição. Definitivamente praticou.

E tem praticado no governo dele?

Uma parte ele pratica. Uma parte não pratica. Agora, de verdade, acho que estamos numa transição e é papel dele fazer uma transição da política velha para a nova. Eu lembro quando conversei com o governador, disse que entendo todas as relações da campanha, se ele quiser fazer na Câmara, não tem problema, mas se quisesse fazer diferente, eu era soldado, inclusive para morrer abraçado.Em meio a uma crise que abateu o mundo político, o deputado Joe Valle (PDT), em seu segundo mandato parlamentar, teve um ano promissor. Elegeu-se presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do DF e derrotou o grupo do governador Rodrigo Rollemberg (PSB), numa disputa voto a voto, para assumir o comando da Câmara Legislativa. Foi uma vitória no último minuto. Poucos apostavam em sucesso. Nem ele. Desde então, Joe não parou de fazer reuniões com entidades do setor produtivo e com políticos. Esteve três vezes com Rollemberg.

Acredita ter sido alvo de um jogo pesado por parte do Executivo. Chega a dizer que poderia ter se tornado “inimigo mortal” de Rollemberg. Apesar do embate com o governador, a quem acusa de praticar a “velha política”, o novo presidente da Câmara garante que não usará o poder Legislativo para fazer oposição. 

Aos 52 anos, Joe é proprietário da Malunga, a maior produtora de hortaliças orgânicas da América Latina. Mas os dois próximos anos serão dedicados à construção de um novo patamar de seu mandato. Ele tem planos para o Palácio do Buriti, a médio prazo, e admite que, se as condições surgirem, será candidato. “Não quero ser governador. Eu quero governar. Não adianta ser governador e não governar, olha o exemplo do Rodrigo”, afirma. 

No próximo ano, Joe vai conduzir a pauta de votações num momento em que, mais uma vez, a questão fundiária estará em destaque. A Lei de Uso e Ocupação do Solo (Luos), o Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico (PPCub) e o Zoneamento Ecológico e Econômico (ZEE) serão temas em debate. A meta do novo presidente, que toma posse no primeiro dia de 2017, é “ressignificar” a Câmara. Ele usa o termo para explicar que seu projeto é mostrar à população que o Legislativo funciona e é importante. Uma tarefa difícil, depois de escândalos, como a Operação Drácon, que não devem dar trégua no próximo ano.

Qual é o seu principal objetivo ao assumir a Presidência da Câmara?

É ressignificar a Câmara para o cidadão brasiliense, mostrando que essa é uma ferramenta da democracia extremamente importante. E como as pessoas não acreditam mais em nada, elas não conseguem enxergar o papel de um legislativo. Quando eu falo ressignificar é porque a Câmara já teve um significado na vida das pessoas e foi perdendo ao longo do tempo. Quero fazer essa ressignificação. Para desenvolver uma relação de pertencimento da Câmara para o povo. Ou seja, as pessoas sentirem que a Câmara pertence a esse processo da democracia. 

A Câmara são 24 deputados. O senhor, embora seja o presidente, é apenas um. Acredita que conseguirá atingir esses objetivos?

Esse é o grande desafio, buscar unidade naquela grande diversidade. Mas, apesar da grande diversidade cultural, todos querem a mesma coisa, querem ser felizes. Isso está na base, no cerne de todos os mandatos. Quero resgatar isso.

Essa tarefa não é árdua, principalmente depois de um ano de denúncias que derrubaram a Mesa Diretora e levantaram suspeitas graves envolvendo cinco deputados? 

Muito difícil mesmo. Se não fosse assim, não seria um desafio, seria apenas a passagem do bastão. Mas não é. É por isso que nesse momento a Câmara precisa do apoio de todo mundo. 

Em termos práticos, o que é ressignificar?

É trazer as pessoas para perto.


Muitos presidentes disseram a mesma coisa, de outra forma. O que será diferente na sua gestão?

Um modelo de gestão completamente transparente, para que as pessoas se sintam pertencentes, sabendo de tudo o que está acontecendo. Nós vamos inclusive inaugurar um grande painel, com todo o orçamento da Câmara e colocar alguns totens em lugares em que as pessoas terão acesso. Vamos traduzir o orçamento e as ações da Câmara em linguagem popular. Tudo isso com metodologia, com equipamento, com transparência, para que as pessoas saibam o que acontece lá e quanto custa. Vamos fazer uma Câmara de qualidade, de excelência e transparente, dando ênfase ao setor produtivo. É a base de onde se geram os impostos para que a gente consiga um trabalho de austeridade.

Existiu algum acordo na campanha para livrar os deputados denunciados na Operação Drácon de algum eventual pedido de 
cassação de mandato?

O grande acordo que foi feito é que o nosso piso é a legalidade. Da legalidade para cima podemos construir tudo. Da legalidade para baixo não podemos construir absolutamente nada. Nem um fio de cabelo. E os deputados toparam. O que a gente precisa fazer é separar a questão da instituição. As pessoas já estão respondendo a processos, estão com as suas vidas conturbadas. Já buscam resolver e isso é uma questão do indivíduo deputado. Não é uma questão da Câmara Legislativa. A instituição está muito além disso. 


No momento da eleição, quando o deputado Robério Negreiros mudou o voto, o deputado Agaciel Maia disse que o senhor era um laranja da deputada Celina Leão. Sentiu-se ofendido?

Não. Foi no calor da derrota. A gente tem que se preparar para perder e ganhar. Quando só nos preparamos para ganhar, isso normalmente nos desequilibra. Como sei que o deputado Agaciel Maia é uma pessoa muito madura, tanto que era a escolha do governador para fazer esse trabalho na Câmara, sei que, como a máquina do governo o ajudou tanto, ele estava certo de que ganharia. Mas eleição só termina quando acaba, e ele perdeu.  Mas eu o respeito. 
 
"O grande acordo que foi feito é que o nosso piso é a legalidade. Da legalidade para cima podemos construir tudo. Da legalidade para baixo não podemos construir absolutamente nada” 
 

Por que o governador Rodrigo Rollemberg fez a escolha por Agaciel?

Foi uma escolha pessoal. A princípio, ele imaginou que eu não tinha capacidade de fazer uma Câmara do jeito que ele queria. E a nossa proposta sempre foi autonomia, com harmonia. Agora, nós temos que tomar muito cuidado porque, se a gente carrega muito na autonomia, pode estar fazendo uma oposição sistemática no processo. E se carrego muito na harmonia, posso estar sendo subserviente. 

O governador e o senhor são do mesmo campo político, tiveram parcerias. Ele mesmo diz que são amigos. O senhor ficou frustrado quando soube que ele não apoiaria a sua candidatura?

Eu já vinha de uma outra eleição em que ele já tinha feito uma escolha pela Celina Leão e eu tinha sido relegado, mesmo sendo o nome do partido. Causa um sentimento de estranheza, um sentimento ruim, mas logo superado porque a gente entendeu que fazia parte da disputa. Ele fez a escolha pessoal e a escolha partidária.


Mas por que o governador escolheu o candidato de um partido de oposição a ele, de José Roberto Arruda e de Jofran Frejat?

Essa explicação ele vai ter que dar porque ninguém entendeu.


Por mais que vocês tenham uma história política próxima, há também uma relação conflituosa. Por exemplo, o senhor quase foi expulso do PSB sob acusação de ser próximo ao PT... Por que há tantos conflitos?

Olha, preciso também perguntar para o Rodrigo. Tenho uma característica, não sou uma pessoal tão fácil, tenho minhas opiniões próprias. Sou muito decidido e tenho conceitos claros. Não sou volúvel e quem geralmente não gosta de pessoa com opinião não gosta de mim. Os políticos mais experientes precisam ouvir mais e entender que, apesar da experiência, a gente está sempre aprendendo. Aprendi que a política tem três pilares. O primeiro é que ela tem fila, mas a fila anda. Segundo, a política tem rito próprio do acordo. O acordo que precisar ser escrito não é acordo da política. Se você faz um acordo, tem que cumprir. E o terceiro, talvez o mais importante, é que a política se constrói com gestos. Estou tentando seguir essas três coisas e os políticos estão esquecendo delas. Por isso existe tanta crise. 


Teve troca de cargos no governo por votos nessa campanha?

Não deve ter acontecido muito porque ele perdeu. Não deu certo. Isso mostra uma maturidade do Legislativo. Vamos analisar: por que o governador, mesmo entrando fortemente nesse mundo da política velha, de fazer esse tipo de relação, que acho que está completamente errada, perde uma eleição para alguém que não tem absolutamente nada a oferecer, além de um compromisso de trabalho e respeito aos deputados? 

O governador fez a política velha?

Fez. Rodrigo praticou a política velha nessa eleição. Definitivamente praticou.

E tem praticado no governo dele?

Uma parte ele pratica. Uma parte não pratica. Agora, de verdade, acho que estamos numa transição e é papel dele fazer uma transição da política velha para a nova. Eu lembro quando conversei com o governador, disse que entendo todas as relações da campanha, se ele quiser fazer na Câmara, não tem problema, mas se quisesse fazer diferente, eu era soldado, inclusive para morrer abraçado.Em meio a uma crise que abateu o mundo político, o deputado Joe Valle (PDT), em seu segundo mandato parlamentar, teve um ano promissor. Elegeu-se presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do DF e derrotou o grupo do governador Rodrigo Rollemberg (PSB), numa disputa voto a voto, para assumir o comando da Câmara Legislativa. Foi uma vitória no último minuto. Poucos apostavam em sucesso. Nem ele. Desde então, Joe não parou de fazer reuniões com entidades do setor produtivo e com políticos. Esteve três vezes com Rollemberg.

Acredita ter sido alvo de um jogo pesado por parte do Executivo. Chega a dizer que poderia ter se tornado “inimigo mortal” de Rollemberg. Apesar do embate com o governador, a quem acusa de praticar a “velha política”, o novo presidente da Câmara garante que não usará o poder Legislativo para fazer oposição. 

Aos 52 anos, Joe é proprietário da Malunga, a maior produtora de hortaliças orgânicas da América Latina. Mas os dois próximos anos serão dedicados à construção de um novo patamar de seu mandato. Ele tem planos para o Palácio do Buriti, a médio prazo, e admite que, se as condições surgirem, será candidato. “Não quero ser governador. Eu quero governar. Não adianta ser governador e não governar, olha o exemplo do Rodrigo”, afirma. 

No próximo ano, Joe vai conduzir a pauta de votações num momento em que, mais uma vez, a questão fundiária estará em destaque. A Lei de Uso e Ocupação do Solo (Luos), o Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico (PPCub) e o Zoneamento Ecológico e Econômico (ZEE) serão temas em debate. A meta do novo presidente, que toma posse no primeiro dia de 2017, é “ressignificar” a Câmara. Ele usa o termo para explicar que seu projeto é mostrar à população que o Legislativo funciona e é importante. Uma tarefa difícil, depois de escândalos, como a Operação Drácon, que não devem dar trégua no próximo ano.

Qual é o seu principal objetivo ao assumir a Presidência da Câmara?

É ressignificar a Câmara para o cidadão brasiliense, mostrando que essa é uma ferramenta da democracia extremamente importante. E como as pessoas não acreditam mais em nada, elas não conseguem enxergar o papel de um legislativo. Quando eu falo ressignificar é porque a Câmara já teve um significado na vida das pessoas e foi perdendo ao longo do tempo. Quero fazer essa ressignificação. Para desenvolver uma relação de pertencimento da Câmara para o povo. Ou seja, as pessoas sentirem que a Câmara pertence a esse processo da democracia. 

A Câmara são 24 deputados. O senhor, embora seja o presidente, é apenas um. Acredita que conseguirá atingir esses objetivos?

Esse é o grande desafio, buscar unidade naquela grande diversidade. Mas, apesar da grande diversidade cultural, todos querem a mesma coisa, querem ser felizes. Isso está na base, no cerne de todos os mandatos. Quero resgatar isso.

Essa tarefa não é árdua, principalmente depois de um ano de denúncias que derrubaram a Mesa Diretora e levantaram suspeitas graves envolvendo cinco deputados? 

Muito difícil mesmo. Se não fosse assim, não seria um desafio, seria apenas a passagem do bastão. Mas não é. É por isso que nesse momento a Câmara precisa do apoio de todo mundo. 

Em termos práticos, o que é ressignificar?

É trazer as pessoas para perto.


Muitos presidentes disseram a mesma coisa, de outra forma. O que será diferente na sua gestão?

Um modelo de gestão completamente transparente, para que as pessoas se sintam pertencentes, sabendo de tudo o que está acontecendo. Nós vamos inclusive inaugurar um grande painel, com todo o orçamento da Câmara e colocar alguns totens em lugares em que as pessoas terão acesso. Vamos traduzir o orçamento e as ações da Câmara em linguagem popular. Tudo isso com metodologia, com equipamento, com transparência, para que as pessoas saibam o que acontece lá e quanto custa. Vamos fazer uma Câmara de qualidade, de excelência e transparente, dando ênfase ao setor produtivo. É a base de onde se geram os impostos para que a gente consiga um trabalho de austeridade.

Existiu algum acordo na campanha para livrar os deputados denunciados na Operação Drácon de algum eventual pedido de 
cassação de mandato?

O grande acordo que foi feito é que o nosso piso é a legalidade. Da legalidade para cima podemos construir tudo. Da legalidade para baixo não podemos construir absolutamente nada. Nem um fio de cabelo. E os deputados toparam. O que a gente precisa fazer é separar a questão da instituição. As pessoas já estão respondendo a processos, estão com as suas vidas conturbadas. Já buscam resolver e isso é uma questão do indivíduo deputado. Não é uma questão da Câmara Legislativa. A instituição está muito além disso. 


No momento da eleição, quando o deputado Robério Negreiros mudou o voto, o deputado Agaciel Maia disse que o senhor era um laranja da deputada Celina Leão. Sentiu-se ofendido?

Não. Foi no calor da derrota. A gente tem que se preparar para perder e ganhar. Quando só nos preparamos para ganhar, isso normalmente nos desequilibra. Como sei que o deputado Agaciel Maia é uma pessoa muito madura, tanto que era a escolha do governador para fazer esse trabalho na Câmara, sei que, como a máquina do governo o ajudou tanto, ele estava certo de que ganharia. Mas eleição só termina quando acaba, e ele perdeu.  Mas eu o respeito. 
 
"O grande acordo que foi feito é que o nosso piso é a legalidade. Da legalidade para cima podemos construir tudo. Da legalidade para baixo não podemos construir absolutamente nada” 
 

Por que o governador Rodrigo Rollemberg fez a escolha por Agaciel?

Foi uma escolha pessoal. A princípio, ele imaginou que eu não tinha capacidade de fazer uma Câmara do jeito que ele queria. E a nossa proposta sempre foi autonomia, com harmonia. Agora, nós temos que tomar muito cuidado porque, se a gente carrega muito na autonomia, pode estar fazendo uma oposição sistemática no processo. E se carrego muito na harmonia, posso estar sendo subserviente. 

O governador e o senhor são do mesmo campo político, tiveram parcerias. Ele mesmo diz que são amigos. O senhor ficou frustrado quando soube que ele não apoiaria a sua candidatura?

Eu já vinha de uma outra eleição em que ele já tinha feito uma escolha pela Celina Leão e eu tinha sido relegado, mesmo sendo o nome do partido. Causa um sentimento de estranheza, um sentimento ruim, mas logo superado porque a gente entendeu que fazia parte da disputa. Ele fez a escolha pessoal e a escolha partidária.


Mas por que o governador escolheu o candidato de um partido de oposição a ele, de José Roberto Arruda e de Jofran Frejat?

Essa explicação ele vai ter que dar porque ninguém entendeu.


Por mais que vocês tenham uma história política próxima, há também uma relação conflituosa. Por exemplo, o senhor quase foi expulso do PSB sob acusação de ser próximo ao PT... Por que há tantos conflitos?

Olha, preciso também perguntar para o Rodrigo. Tenho uma característica, não sou uma pessoal tão fácil, tenho minhas opiniões próprias. Sou muito decidido e tenho conceitos claros. Não sou volúvel e quem geralmente não gosta de pessoa com opinião não gosta de mim. Os políticos mais experientes precisam ouvir mais e entender que, apesar da experiência, a gente está sempre aprendendo. Aprendi que a política tem três pilares. O primeiro é que ela tem fila, mas a fila anda. Segundo, a política tem rito próprio do acordo. O acordo que precisar ser escrito não é acordo da política. Se você faz um acordo, tem que cumprir. E o terceiro, talvez o mais importante, é que a política se constrói com gestos. Estou tentando seguir essas três coisas e os políticos estão esquecendo delas. Por isso existe tanta crise. 


Teve troca de cargos no governo por votos nessa campanha?

Não deve ter acontecido muito porque ele perdeu. Não deu certo. Isso mostra uma maturidade do Legislativo. Vamos analisar: por que o governador, mesmo entrando fortemente nesse mundo da política velha, de fazer esse tipo de relação, que acho que está completamente errada, perde uma eleição para alguém que não tem absolutamente nada a oferecer, além de um compromisso de trabalho e respeito aos deputados? 

O governador fez a política velha?

Fez. Rodrigo praticou a política velha nessa eleição. Definitivamente praticou.

E tem praticado no governo dele?

Uma parte ele pratica. Uma parte não pratica. Agora, de verdade, acho que estamos numa transição e é papel dele fazer uma transição da política velha para a nova. Eu lembro quando conversei com o governador, disse que entendo todas as relações da campanha, se ele quiser fazer na Câmara, não tem problema, mas se quisesse fazer diferente, eu era soldado, inclusive para morrer abraçado.

Com a sua eleição para a Presidência, o senhor subiu alguns degraus da vida pública. E isso o coloca em outro patamar. Já pensa onde isso pode levá-lo?

Estou muito feliz no sentido de que posso ajudar mais esta cidade. Tenho projetos para esta cidade, tenho equipe, gente que conhece e uma rede de pessoas que querem uma oportunidade para ajudar. Estou me reunindo com coletivos de cultura, do setor produtivo, atacadistas, empresários da construção civil... Estou me reunindo para dizer: “Que cidade queremos? Quem vai construir essa cidade?” Nós estamos vivendo numa sociedade do produto milagroso. Mas não tem solução mágica. É trabalho, suor e muitas lágrimas. O que quero fazer é ajudar o governador, num modelo independente, autônomo, mas harmônico a trazer essas pessoas para um pacto para Brasília e que ele seja o maestro desse pacto.

Isso é discurso de candidato ao governo?

Não, de forma nenhuma. De verdade, acho que essa cidade está ingovernável. Por isso, quero construir um pacto. Lógico, que daqui a oito anos, 12 anos, se surgir uma oportunidade e existir um grupo de pessoas e um pacto pela governabilidade e que haja uma possibilidade de governança, eu coloco meu nome sem nenhum problema. Mas não quero ser governador. Eu quero governar. Não adianta ser governador e não governar. Olha o exemplo do Rodrigo.

Se houver esse pacto e isso apontar para o seu nome, e se isso for importante para a cidade e se o senhor se sentir em condições de governar, será candidato?

Claro. Quem não seria? Somente nessas condições, que considero quase impossíveis.


Aconteceu isso com Rollemberg? Ele quis ser governador e não consegue governar?

Não consegue governar porque é difícil juntar essa diversidade partidária sem um programa construído por todos. Essa é a grande dificuldade.

Mais do que a dificuldade financeira?

Muito mais. Brasília tem um orçamento gigantesco. Temos aqui só do que chamo de “aluguel da Esplanada” R$ 13 bilhões por ano. É o Fundo Constitucional para três áreas. O salário aumentou demais? Verdade. Aconteceu. Mas foi uma conquista dos servidores. É ótimo porque também esses salários são gastos aqui. Rodam a economia. Mas já não dá mais para enxugar o custo. Temos que aumentar a arrecadação. É uma regra simples: a solução é pelo setor produtivo.


"Rodrigo praticou a política velha nessa eleição. Definitivamente praticou”


Mas como fazer?

Nós temos aqui o Ministério Público, que toma algumas medidas avessas ao setor produtivo... Precisamos de um pacto de governabilidade. Todo mundo junto. Precisamos dialogar. Estou propondo um seminário, e já estou trabalhando nisso há mais de um ano, do setor produtivo com o Ministério Público. Será em fevereiro ou março. Não se pode ter uma animosidade desse nível entre essas instituições. Não dá para ter todos os promotores achando que todo empresário é picareta e nem todo mundo do setor produtivo achando que o MP é danadinho. É assim que acontece. Não pode ser.


Essa situação também chegou a esse ponto por causa dos excessos cometidos anteriormente, desvendados na Pandora, Drácon... E com Lava-Jato... Isso não cria um clima de desconfiança do MP em relação ao empresariado?

Por isso, falo de ressignificação. Esses esquemas são um modelo do Brasil, do gasto com as eleições, mas esse modelo de transição vem sendo construído. Não podemos criar preconceitos, criminalizar a política e afastar as pessoas de bem. 

R$ 511 milhões é muito para o orçamento da Câmara?

Num primeiro momento, é muito. Um orçamento altíssimo. Pelo amor de Deus, com esse orçamento faço uma revolução em qualquer país. Mas é preciso desdobrar esse orçamento. Como não temos uma gestão clara, não conseguimos nem dizer se é muito ou pouco. Hoje, a princípio, eu acho: é muito dinheiro. Se eu fizer uma pesquisa agora, muita gente pode querer fechar a Câmara. Mas vamos mostrar o tanto de leis que a Câmara fez e melhorou a vida das pessoas...

Pegar uma batata quente como essa, de presidir um Poder que tem a imagem tão desgastada, pode manchar a sua história?

Pode. Mas para que ser deputado e ter uma vida normal? Sou empresário, tenho uma empresa sensacional. Meu sonho de vida está realizado. Era melhor ficar lá. Mas eu vim como deputado, fui eleito pelas pessoas, e ficar tendo uma vida tranquila, não acho justo. Não faço as coisas para me reeleger, até porque ser deputado é um fardo muito pesado para quem faz de forma séria. É doação e entrega completa. Estou nesse trabalho com o risco de nem me reeleger.

2017 será um ano difícil e algumas votações são fundamentais para as políticas públicas. Qual vai ser o seu papel?

Buscar consenso, com a população principalmente. A população é quem sabe o que é bom. Tenho que fazer gestão para melhorar a felicidade das pessoas. Não posso confundir austeridade com prosperidade. Não posso achar que ser austero, com contas em dia e pessoas mortas, é melhor. Temos que fazer gestão para a felicidade das pessoas e não para os cofres. Tenho que achar um equilíbrio porque a austeridade na medida errada é tão ruim quanto a falta de controle.

É isso que o governo atual está fazendo?

Eu acho. Ele tem excelentes técnicos, mas precisa mesclar um pouco de política nesse processo. Não estou me referindo a política partidária, mas de relacionamento, de gente, da felicidade das pessoas.


Rollemberg tem dificuldade de relacionamento com os aliados, como Cristovam e Reguffe?

Ele se tornou centralizador pela desconfiança. É difícil mesmo. Aparece tanta gente, de tudo que é lugar. Mas ele centralizou muito. Ele tem esse problema e precisa mudar.


Quando o senhor fala em felicidade das pessoas, sai uma administração mais fechada e entra o Joe Paz e Amor? O que é felicidade?

É as pessoas viverem bem. Mas o gestor não precisa passar a mão na cabeça e ser bonzinho. Precisa ser justo.


Quais serão as votações mais importantes em 2017?

Nossa Senhora! Luos, PPCub. Zoneamento Ecológico Econômico. A política fundiária será o tema de 2017. Também vamos puxar o tema água muito fortemente.


Neste momento, apoiaria a reeleição do Rollemberg?

Eu apoio quem o meu partido apoiar e hoje o PDT está na base do governo.


E estará em 2018?

Depende do governador. Se ele fizer um bom trabalho por Brasília, seguindo o programa de governo que ajudamos a elaborar, certamente vamos ajudá-lo.

Pensa como o Reguffe, que disse que Rollemberg rasgou o programa de governo?

Não digo que ele rasgou. Estou controlando. Com seis meses de governo, Cristovam e Reguffe diziam: “Vamos sair do governo”. E eu:"Como é que é?" Vamos fazer o seguinte: entregar um documento com tudo o que ele precisava fazer em um ano. Se ele não atingisse um índice aceitável, aí sim estaríamos fora. Era só cumprir o programa de governo.
 
"A quantidade de coisas que o Rodrigo fez nessa eleição era para eu me tornar inimigo mortal dele. Ele fez muita bobagem” 
 

E ele está cumprindo?

Tenho uma equipe minha, especialista em gestão, controlando isso. Em percentual, está abaixo de 50%. Está em 37%. Mas tem coisas que avançaram bastante no último ano.

Onde avançou mais?

Na agricultura e na questão ambiental.

Seu grupo?

Eles são técnicos e trabalham direitinho. Tem uma outra área que avançou também, a regularização fundiária. 

A sua eleição acabou fortalecendo o grupo contrário ao governador? Como Tadeu Filippelli... Esse campo está mais forte?

Deixei claro para todos os amigos que a eleição de 2016 não tem repercussão em 2018. Estamos falando da eleição da Câmara. Não estamos falando de 2018. 

Impor uma derrota ao governador atrapalha acordos futuros?

Acho que o gesto maior é que mesmo o governador tendo trabalhado extremamente contra a nossa eleição, após a nossa vitória, a primeira ligação foi para ele, dizendo que esse Poder é autônomo e harmônico. Não temos absolutamente nada contra o seu governo.

O senhor ligou para ele?Claro. E já fiz três reuniões com ele. E desde o primeiro momento, conversei claramente com ele. Mas a quantidade de coisas que o Rodrigo fez nessa eleição era para eu me tornar inimigo mortal dele. Era mesmo, porque ele fez muita bobagem. Ele me tratou como inimigo. 


E o senhor se tornou inimigo mortal?

Claro que não.

Nem está magoado?

De forma nenhuma. Tem que saber perder e saber ganhar.

Ele diz o mesmo em relação ao senhor... Vocês disputam muito?

Como posso disputar com o governador? Eu deputado distrital, ele senador. Eu deputado distrital, ele governador.

Mas tem algo mal resolvido?

Deve ser cármico. (Risos) Só pode ser...
 

Se a Celina se sentar na Presidência da CCJ e segurar processos de interesse do Executivo, como o senhor pretende agir?

Conhecendo a Celina como conheço, acredito que os projetos que são bons para a cidade não serão tratados com picuinha, apenas como uma questão pessoal com o governador. Não vejo que temos deputados com esse nível de irresponsabilidade.

Quando as pessoas votaram no senhor para deputado distrital, optaram pelo quê?

Tive 20 mil votos e ninguém acreditava antes que eu seria eleito. Mas fui a todos os compromissos, reuniões. Mostrei as leis que aprovei.Chegou na eleição e foi aquela surpresa para todos, inclusive para mim. Vejo que há um processo de mudança no eleitor: a vitória está muito mais no resultado do que no objetivo. 

Que tipo de trabalho o senhor fez para que essas pessoas acreditassem?

Criei uma metodologia na Câmara, que trabalhamos as frentes parlamentares, grupos de trabalho, seminários. Tudo isso criou documentos que levaram a projetos de lei que devolvi para a comunidade. Eu trouxe as pessoas para participar.
 
"Nós temos aqui o Ministério Público que toma algumas medidas avessas ao setor produtivo... Precisamos de um pacto de governabilidade. Todo mundo junto. Não dá para ter todos os promotores achando que todo empresário é picareta e nem todo mundo do setor produtivo achando que o MP é danadinho” 
 

Câmara abrirá mais de 100 vagas em concurso público


E para os servidores da Câmara quais as novidades?

Vamos promover um concurso público.

Em todas as  áreas?

Sim, em todas as áreas. Há um número grande de servidores se aposentando.

Quando e como vai ser isso?

Deveremos lançar o edital do concurso entre fevereiro e maio, para todos os cargos. Serão mais de 100 vagas. Há mais de 10 anos a Câmara não contrata por concurso. 
 

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