segunda-feira, 22 de junho de 2020

Mulher de Queiroz pode ir para lista da Interpol


Estadão
Preso na manhã de quinta, 18, em uma casa em Atibaia, de propriedade de advogado da família Bolsonaro, o ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz foi o principal alvo da Operação Anjo, a segunda ofensiva do Ministério Público do Rio no caso das ‘rachadinhas’ no gabinete de Flávio Bolsonaro enquanto deputado no Rio. No entanto, atendendo a pedido da Promotoria, o juiz Flávio Nicolau, da 27ª Vara Criminal da Capital, também decretou a prisão preventiva de Márcia Oliveira de Aguiar, mulher de Queiroz, por considerar que ela teve ‘participação fundamental’ nas manobras para embaraçar as investigações de peculato, organização criminosa e lavagem de dinheiro.
Segundo o magistrado, era ‘inequívoco’ que Márcia, em liberdade poderia obstaculizar a apuração dos fatos, além de agir sob as ordens de Queiroz. Em sua decisão, Nicolau escreveu que assim como o ex-assessor parlamentar do filho ’01’ do presidente Jair Bolsonaro, Márcia também estava se escondendo, recebendo auxílio de terceiro e ainda cogitava fugir caso tivesse ciência de que foi decretada sua prisão preventiva.
Márcia não foi encontrada e é considerada pelo MP-RJ como foragida. Desde a manhã de quinta-feira, 18, equipes da Polícia miram endereços ligados a ela. Os investigadores do Rio informaram na sexta-feira, 20, que vão pedir a inclusão de seu nome na lista de Difusão Vermelha da Interpol.
"Pode-se concluir que os requeridos Fabrício José Carlos de Queiroz e Márcia Oliveira de Aguiar forneceram endereços falsos nos autos e suas condutas denotam notória intenção de não se submeterem à Jurisdição Penal, restando evidenciado o risco à futura aplicação da lei penal pelo iminente risco de fuga", escreveram os investigadores na representação para deflagração da operação Anjo.
Foi a partir de Márcia que os investigadores chegaram ao esconderijo do operador financeiro da organização criminosa liderada por Flávio Bolsonaro - mais precisamente a partir do o celular da ex-servidora da Alerj. O aparelho foi apreendido em dezembro do ano passado, na primeira ofensiva do MPR-J no âmbito das investigações de rachadinha. Na ocasião, foram realizadas 24 buscas.
Segundo o MP, a ofensiva inclusive ‘surpreendeu’ Márcia, que segundo mensagens extraídas de seu celular, estava com viagem para São Paulo marcada para o dia 18 de dezembro, data da operação.
No celular de Márcia estavam fotos, enviadas tanto por Queiroz como pelo filho do casal, que retratavam o ex-assessor de Flávio Bolsonaro levando uma ‘vida confortável e ativa’ no imóvel de Fred Wassef, que se autointitula advogado e amigo da família Bolsonaro. Uma das imagens registra o ex-PM comandando churrasco com uma camisa do Vasco, comemorando ao rebaixamento do Cruzeiro, com uma ‘corona com limãozinho’ e presença de ‘amiguinhas bacaninhas’ de seu filho.
Mensagens trocadas entre Queiroz e Márcia em novembro de 2019, um mês antes da primeira ofensiva do MP-RJ, mostraram ainda que o casal estaria obedecendo às instruções de alguém referido apenas como ‘Anjo’. O apelido deu nome à operação realizada na quinta, 18. Segundo os diálogos tal pessoa também manifestou a intenção de esconder toda a família do de Queiroz em São Paulo. Os textos mostram que Márcia inicialmente considerou a ideia ‘exagerada’, mas depois ‘aceitou fugir’ caso ela e Queiroz ‘tivessem a prisão decretada’.
Outros diálogos extraídos do telefone de Márcia mostraram ainda que Queiroz, sua mulher e o advogado Luiz Gustavo Botto Maia, também ligado ao filho mais velho do presidente, teriam orientado a mãe do miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, o Capitão Adriano, a ficar ‘escondida’. Márcia inclusive visitou a casa onde a mãe do chefe do ‘Escritório do Crime’ estava em Minas Gerais.
As relações entre a família de Queiroz e a família de Capitão Adriano vão além. O miliciano teria repassado mais de R$400 mil para as contas do ex-assessor de Flávio Bolsonaro. Além disso, segundo o MP-RJ, participaria de um ‘plano de fuga organizado para toda a família do operador financeiro’. Os investigadores também apontaram que o milicano fazia parte do núcleo executivo do esquema de desvio de salários na Alerj, mesmo grupo do senador Fla´vio Bolsonaro.
Também a partir de mensagens trocadas entre Márcia e Queiroz foi possível que os promotores identificassem indícios de uma suposta ‘influência’ de Queiroz sobre as milícias do Estado. Nos diálogos o ex-assessor parlamentar se compromete a ‘interceder pessoalmente’ junto a milicianos em favor de um homem que pede sua ajuda após receber ameaças de paramilitares no Itanhangá.
Outro objeto apreendido durante as buscas do MP-RJ em dezembro do ano passado, na casa de Márcia, foi uma caderneta com anotações de gastos do ex-assessor de Flávio Bolsonaro com despesas hospitalares e também sobre possíveis contatos com policiais e milicianos, caso fossem presos.
Os registros mostraram que Queiroz recebeu R$ 174 mil em espécie, de origem desconhecida e pagou as despesas do hospital Albert Einstein, onde fez tratamento de um câncer. Já os contatos de ‘Leonardo policia’ e ‘Aroldinho policial federal’ na caderneta levaram aos promotores a pedir à Justiça que encaminhasse o ex-PM para Bangu, e não para o Batalhão Especial Prisional da Polícia Militar do Rio, tendo em vista que os policiais citados ‘poderiam, em tese, facilitar a vida’ de Queiroz no presídio.
Ex-funcionária da Assembleia Legislativa do Rio, Márcia foi uma das assessoras ligadas ao gabinete do filho ’01’ do presidente que mais repassou parte de seus salários à Queiroz. Segundo o MP do Rio, seu marido recebeu R$ 2.039.656,52 de 11 servidores da Alerj.
Márcia teria depositado nas contas de Queiroz R$ 445 mil dos R$ 1,1 milhão que recebeu da Casa Legislativa. O montante transferido fica atrás somente dos repasses feitos pela filha do casal, Nathalia Melo de Queiroz que colocou nas contas do pai R$ 663 mil dos R$ 774 mil que recebeu da Alerj.
Apesar de não representar Queiroz, Fred Wassef, advogado de Flávio Bolsonaro e dono do imóvel onde o ex-PM foi preso, afirmou em abril que a razão dos depósitos dos familiares do ex-assessor parlamentar em sua conta se davam ‘vez que o pai é quem administrava os recursos’.

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