terça-feira, 29 de julho de 2025

A conta salgada da retaliação americana

 

Foto: Aaron Schwartz/EFE/EPA/POOL; Marcelo Camargo/Agência Brasil

Por Edmar Lyra

A partir de 1º de agosto, o Brasil poderá enfrentar uma das mais severas sanções comerciais dos últimos anos: a imposição de uma tarifa de 50% sobre suas exportações aos Estados Unidos. Caso a medida se concretize, o impacto será brutal para a economia brasileira e expõe, de forma contundente, os riscos de erros na condução da política externa. O Brasil, que vinha tentando ampliar sua inserção nos mercados globais, verá um dos seus principais parceiros comerciais erguer uma barreira quase intransponível, com efeitos que não se limitarão ao comércio exterior.

No curto prazo, a reação será imediata. As exportações brasileiras para os Estados Unidos devem despencar. Produtos do agronegócio, como soja, carne, suco de laranja e etanol, perderão competitividade, abrindo espaço para concorrentes como Argentina, Canadá e países do Sudeste Asiático. O impacto será particularmente sentido em estados produtores, como Mato Grosso, Goiás, Paraná e São Paulo, onde o agronegócio é um dos pilares do PIB estadual. A indústria também sofrerá. Exportadores de calçados, têxteis e autopeças enfrentarão prejuízos e possíveis demissões.

Com a queda das exportações, o país verá recuar a entrada de dólares, pressionando o câmbio. O real desvalorizado encarece importações, o que deve alimentar a inflação. Esse ciclo perverso pode obrigar o Banco Central a adotar medidas como a elevação da taxa de juros, prejudicando ainda mais o consumo, o crédito e os investimentos internos. O cenário é de desaceleração econômica em pleno momento de busca por crescimento sustentado.

Politicamente, a medida americana é um recado claro sobre os limites da diplomacia brasileira. A relação com os Estados Unidos, que historicamente oscilou entre proximidade e tensão, parece ter alcançado um ponto crítico. A retaliação comercial pode estar relacionada a divergências recentes em fóruns internacionais, à condução de temas ambientais, ou até mesmo à falta de alinhamento geopolítico em questões estratégicas. Seja qual for a origem, a consequência é concreta: o Brasil perderá bilhões de dólares em receita, com impacto direto no emprego, na renda e na arrecadação.

O médio e longo prazo também não são animadores. Redirecionar exportações para outros mercados é possível, mas não imediato. Exige negociações comerciais, certificações, acordos fitossanitários e, sobretudo, tempo. O Brasil poderá buscar fortalecer laços com a China, Índia, países árabes e a União Europeia, mas ainda assim ficará marcado pela instabilidade em sua relação com a maior economia do mundo.

A retaliação dos Estados Unidos não é apenas um problema econômico: é um alerta político. A ausência de uma estratégia externa sólida, previsível e pragmática cobra seu preço. E o Brasil, mais uma vez, paga caro por negligenciar a diplomacia como ferramenta de proteção e promoção dos seus interesses nacionais.

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