Por Edmar Lyra
As decisões anunciadas nesta quarta-feira (30) pelo governo de Donald Trump marcam um ponto de inflexão nas relações entre Estados Unidos e Brasil. Em um mesmo dia, a Casa Branca impôs um tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros e o Departamento do Tesouro aplicou sanções diretas contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, com base na Lei Magnitsky Global. As duas medidas, embora oficialmente tratadas como independentes, são politicamente coordenadas e traduzem o novo alinhamento ideológico da Casa Branca, agora abertamente hostil ao governo Lula e disposto a intervir em assuntos internos de países que considera adversários.
No campo econômico, o aumento das tarifas tem impacto direto em setores estratégicos da economia brasileira, como alimentos, aço e aeronaves. A justificativa formal do governo Trump é a “proteção da indústria americana” contra práticas comerciais consideradas desleais. Mas nos bastidores diplomáticos, a medida é lida como um recado direto ao Planalto. Lula tem se posicionado como defensor da multipolaridade, aproximando-se da China, dos BRICS e de países do Sul Global, além de manter uma postura crítica às políticas ambientais e comerciais dos EUA. A retaliação tarifária não é apenas econômica: é uma demonstração de força e um alerta geopolítico.
Ainda mais simbólica e incendiária foi a sanção aplicada contra Alexandre de Moraes. A acusação do Tesouro norte-americano é de que o ministro violou liberdades civis, perseguiu adversários políticos e feriu os princípios do devido processo legal — tudo com base na Lei Magnitsky, geralmente usada contra figuras ligadas a regimes autoritários. O alvo, neste caso, é um dos principais protagonistas do enfrentamento institucional contra o bolsonarismo no Brasil. Moraes, como relator de inquéritos no STF, determinou a prisão de aliados de Bolsonaro, bloqueou perfis em redes sociais e enfrentou campanhas de desinformação, o que o transformou em símbolo do combate à extrema direita.
O gesto de Trump tem motivações claras. Desde que voltou à presidência em janeiro de 2025, o republicano vem recompensando aliados ideológicos pelo mundo e retaliando quem considera opositor. A relação próxima entre Trump e Jair Bolsonaro — além da pressão de grupos conservadores nos EUA — pesou na decisão de sancionar Moraes. É também um aceno à base trumpista, que vê na ofensiva do Judiciário brasileiro contra o bolsonarismo uma “ditadura judicial disfarçada”.
A reação do governo Lula foi dura. Em pronunciamento, o presidente classificou a sanção como “ataque à soberania nacional” e prometeu reavaliar todos os acordos bilaterais com os EUA. O Itamaraty já iniciou consultas com parceiros do G20 e da ONU, denunciando interferência externa. No Congresso, a oposição comemorou, reforçando o discurso de perseguição e abuso de poder por parte do STF.
As consequências desse episódio serão duradouras. Lula precisará equilibrar a firmeza diplomática com a necessidade de preservar mercados e evitar uma escalada econômica ainda mais grave. As sanções dos EUA, agora sob Trump, revelam que a disputa ideológica internacional está longe do fim — e que o Brasil, com seu cenário interno tensionado, será um dos epicentros dessa nova guerra fria política.
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