Por Edmar Lyra
O início de 2025 trouxe à tona uma questão que promete movimentar os bastidores da política nacional: Luiz Inácio Lula da Silva, principal liderança da esquerda brasileira e atual presidente, ainda não decidiu se será candidato à reeleição em 2026. Aos 79 anos, Lula enfrenta um dilema que mistura questões de saúde, legado político e as dificuldades naturais de quem carrega o peso de ser, há décadas, o principal nome do PT e do campo progressista no Brasil.
Embora o presidente tenha assegurado que está “totalmente recuperado” após um acidente doméstico que resultou em uma cirurgia de emergência, o episódio evidenciou o impacto da idade e a necessidade de adaptação a uma rotina menos extenuante. A redução de compromissos, as reuniões mais curtas e a maior reserva de fins de semana para descanso reforçam os sinais de uma mudança de ritmo que pode influenciar diretamente sua decisão para 2026.
Além disso, há reflexões estratégicas. Lula demonstrou incômodo com a candidatura de Joe Biden nos Estados Unidos, avaliando que o atual presidente americano teria errado ao não preparar um sucessor mais cedo. Esse paralelo parece ter ressoado nos pensamentos do petista, que pondera se sua candidatura seria o melhor caminho para consolidar seu legado ou se seria mais prudente abrir espaço para um novo nome.
Por outro lado, os aliados mais próximos não enxergam alternativas viáveis dentro do Partido dos Trabalhadores. O “lulismo”, como fenômeno político, transcende o próprio PT, e nenhum outro quadro da esquerda brasileira demonstra força suficiente para enfrentar um adversário de direita em 2026. Esse vazio de sucessores populares reforça a ideia de que, mesmo relutante, Lula é visto como peça indispensável no jogo político.
A decisão de Lula, entretanto, não é simples. Além da saúde, pesa a disposição para encarar o cotidiano desgastante de uma campanha presidencial e, eventualmente, mais quatro anos de governo. O presidente tem demonstrado uma postura mais reservada e impaciente, o que contrasta com o líder incansável que dominava reuniões e agendas nos mandatos anteriores.
Ainda assim, quem acompanha o petista garante que ele continua interessado pelo poder. A perspectiva de ampliar seu recorde de tempo na Presidência da República e de consolidar um legado que o manteria no centro da História brasileira são motivações que podem levá-lo a se candidatar novamente.
Se Lula decidir não disputar, o desafio será monumental. O PT terá que encontrar, em tempo hábil, um nome que consiga ao menos minimizar o impacto da ausência do maior líder da esquerda no Brasil. Por enquanto, qualquer movimentação nesse sentido é vista como improvável. Confirmar sua candidatura antecipadamente, como ponderam ministros e assessores, seria uma estratégia desvantajosa, pois daria aos adversários tempo para se preparar.
Lula está em um momento crucial de sua trajetória política. Entre o desejo de preservar sua saúde, seu legado e sua posição de liderança, sua decisão sobre 2026 será determinante não apenas para o PT, mas para o futuro do país. Se optar por não disputar, o maior desafio não será convencer seus aliados, mas encontrar quem, em um campo órfão de sucessores, possa enfrentar a crescente força da direita brasileira.
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