sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Do silêncio conivente com a misoginia na ALEPE

 


Por Luciano Freitas Filho (*) – É espantoso observar por parte de partidos diversos que compõem a ALEPE , sobretudo os progressistas, o silêncio conivente com uma série de insultos desrespeitosos e misóginos vindos da presidência do legislativo pernambucano e de alguns prefeitos de oposição, contra a governadora Raquel Lyra.

Esses últimos episódios não só revelam quem proferiu o insulto, mas também diz muito dos que ficam em silêncio, sem qualquer sororidade.

Não se pode compreender certas violências como atos políticos de oposição. São as mesmas violências vividas pela ex-presidente Dilma Rousseff. Nada é por acaso. A história se repete.

Remeto-me a Bertold Brecht

“Primeiro levaram os negros, mas não me importei com isso, eu não era negro. Em seguida, levaram alguns operários, mas não me importei com isso, eu também não era operário… Agora estão me levando, mas já é tarde. Como eu não me importei com ninguém, ninguém se importa comigo.”

O maior indício do machismo presente nas falas do presidente da ALEPE reside exatamente pelo fato de ele ser do mesmo partido que o dela, uma mulher na autoridade maior do Estado e do partido, o PSDB-PE.

O subterfúgio para atacar ao outro, quando não há argumentos, é o do insulto – isso diz mais sobre o agressor do que sobre o agredido.

Talvez exista a ingênua ilusão de fazer uso de uma cadeira no Palácio do Campo das Princesas – não se sabe o que se passa nos pensamentos alheios.

Raquel Lyra, a 1ª mulher eleita governadora em PE, ex-prefeita, ex-deputada estadual e com larga experiência enquanto servidora pública, tem sido alvo de ataques e insultos de nível menor, desde o 1º dia de trabalho como gestora de Pernambuco.

Desafiaram-na com pautas-bombas na ALEPE, há de se recordar. Uma mesma prática do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, no processo de implementação de um golpe político.

Muitos argumentam ou tentam legitimar tais atos, puro suco do machismo patriarcal pernambucano, com o argumento de serem críticas legítimas ao 1º ano do governo Raquel Lyra.

Por vezes, tenho a impressão de que estou vivendo em um Pernambuco outro, em um cenário paralelo de um Estado saído de um comercial de margarina: perfeito, lindo e imaculado.

Críticas a números, a índices e problemas que dizem respeito muito mais a um legado de uma gestão de 16 anos do PSB e não ao ano de 2023. Gestão essa, vale lembrar, da qual também faz parte o prefeito da cidade do Recife. Mudança social não ocorre no imediato.

Parece-me, por vezes, que 16 anos de governo foram deletados, apagados da memória social.

Que a oposição faça o papel que lhe cabe no jogo político, questionando a governadora e toda sua equipe, cobrando e apontando falhas, entretanto com ética, respeito, não corroborando com discursos e práticas violentas, misóginas, em um país com altos índices de violência contra a mulher.

(*) Luciano Freitas Filho é doutor em Educação pela UFRJ e professor do Instituto Federal da Bahia/IFBA



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