Por Bernardo Estillac*
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vetou a realização de atos oficiais do governo recordando os 60 anos do golpe militar no Brasil. Em aceno às Forças Armadas, o presidente perde a oportunidade de fortalecer a defesa pela democracia em momento em que o verde-oliva das fardas que rondam a república está desbotado como “nunca antes na história deste país”.
O Partido dos Trabalhadores, no entanto, não deve seguir a linha determinada por seu líder aos órgãos do Executivo. Orientou filiados a participar e apoiar atos que recordam as seis décadas da abolição da democracia. Em Minas Gerais, de onde saíram os primeiros tanques que destituíram João Goulart, quadros importantes da legenda estarão presentes em eventos que rememoram as vítimas do regime militar que se instalou no poder em 1964 e só se encerrou 21 anos depois.
Em Belo Horizonte, o partido é um dos que convocam para o ato “Sem anistia! Ditadura nunca mais!”, marcado para a segunda-feira (1º), às 16h, em frente ao prédio do antigo Departamento de Ordem Política e Social (Dops), na Avenida Afonso Pena. No prédio atualmente funciona o Memorial dos Direitos Humanos da capital, após lei sancionada em 2000 e de autoria do atual deputado federal Rogério Correia (PT). O parlamentar é um dos nomes confirmados no evento. À coluna, ele destaca que participa do ato em todos os anos e ressalta as recentes investidas antidemocráticas no país: “Como membro da CPMI do 8 de janeiro, sei que outro golpe passou muito perto”.
Na Zona da Mata, manifestantes farão uma “marcha reversa”, saindo do Rio de Janeiro com destino a Juiz de Fora na segunda-feira. O ato recria, no sentido oposto, o movimento feito pelo general Olympio Mourão, primeiro a enviar tanques e blindados saindo de Minas com direção à então capital federal na calada da noite de 31 de março de 1964. O ato será recebido pela prefeita Margarida Salomão (PT) e terá a presença de Nilmário Miranda, outro quadro histórico do partido e atual assessor especial do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC).
A pasta onde Miranda está lotado preparava atos oficiais para os 60 anos do golpe, mas foi orientada por Lula a cancelar os eventos. O petista mineiro contemporiza a medida presidencial afirmando que os militares, por sua vez, não farão uma ordem do dia celebrando o golpe e o tratando por “revolução”. Ele destaca ainda que os integrantes do governo federal não foram recomendados a não participar de outras manifestações em recordação do golpe. A agenda do assessor especial do MDHC, que foi preso e torturado durante a ditadura militar, está repleta de ações até a metade de abril.
Confirmando que o PT operará à parte da ordem dada por Lula aos integrantes do Executivo, o deputado federal mineiro e líder do partido na Câmara, Odair Cunha, emitiu a seguinte nota: “O Congresso Nacional foi fechado quatro vezes — em 1965, 1966, 1968 e 1977 —, com a cassação de mandatos e perseguição a parlamentares, numa onda de truculência que varreu o país sob a égide de atos institucionais. Ao longo de 21 anos, o país foi jogado nas trevas, com violência, repressão a movimentos sociais, censura e perseguição política, tortura e desaparecimento de inúmeras pessoas que lutavam por um Brasil democrático, mais justo e igualitário”.
A ditadura militar no Brasil foi responsável pela morte e desaparecimento de 434 perseguidos políticos, segundo a Comissão Nacional da Verdade. O regime também estruturou uma máquina de repressão que matou e mata dezenas de milhares de brasileiros socialmente vulneráveis.
*Colunista do Estado de Minas
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