segunda-feira, 8 de abril de 2024

FIG EM JOGO: Disputa política ameaça Festival de Inverno de Garanhuns

Esta semana, a presidente da Fundarpe disse que o Estado estava se retirando da organização do evento

Por: TEREZINHA NUNES Do BlogDellas Especial para o JC

Governadora Raquel Lyra se reuniu com o prefeito de Garanhuns, Sivaldo Albino, antes do rompimento - HESÍODO GÓES/SECOM

Criador do Festival de Inverno de Garanhuns há 32 anos, o prefeito Ivo Amaral, já falecido, nunca desejou municipalizar o evento que, desde o início, através do seu esforço, foi assumido pelo Governo do Estado e realizado em parceria com a Prefeitura. 

Em 2009, quando comemorou o reconhecimento do mesmo como Patrimônio Imaterial de Pernambuco pela Assembleia Legislativa, ele foi ouvido sobre a possibilidade de municipalização do evento e respondeu: “a municipalização é um equívoco que se for levado a cabo é o decreto do fim do Festival”. Lembrava que um evento de tal grandeza e “com mais de 20 polos de pura cultura, envolvendo toda a diversificada cena cultural pernambucana, só poderia ser permanente se fosse bancado pelo estado” embora, como dizia, “fosse necessário que todos (estado, município e empresariado) trabalhem em consonância com o projeto”.

Algo que Ivo, certamente, não aprovaria, está acontecendo este ano na 32.a edição do evento, um dos mais importantes, em sua categoria, não só de Pernambuco como do Brasil. O atual prefeito Sivaldo Albino(PSB), que nunca falou emunicipalização, começou a defendê-la na gestão da governadora Raquel Lyra, trazendo para a cena política um debate sobre um festival, que sempre for exemplo de união. Mesmo quando o governador e o prefeito estavam em campos diferentes, houve entendimento, eles sentavam à mesa e não se tem notícia de dificuldades nessa área. O estado organizava o evento, custeando quase tudo, e a Prefeitura era parceira. Ganhavam todos.

Esta semana, a presidente da Fundarpe, órgão estadual responsável pelo Festival, Renata Borba, disse, após vários encontros das equipes estaduais e municipal, duas delas com a presença do prefeito e da governadora, que o estado estava se retirando da organização evento com uma frase que virou manchete: ”Isso não é o FIG”. Ela se referia ao fato da Prefeitura não ter concordado em assinar um termo de compromisso com o estado sobre o Festival,impedindo que o poder público, a tempo, fizesse as chamadas públicas e licitações necessárias à contratação dos artistas e dos serviços prestados ao público durante o evento; e à decisão do prefeito de, segundo ela, transformar o festival “em mais uma festa e isso não é FIG. Festa, qualquer município pode fazer”.

Na verdade, o prefeito, como fez questão de frisar, com o apoio dos deputados federais Carlos Veras, do PT, e Felipe Carreras, do PSB, responsáveis pela liberação de emendas parlamentares para contratar atrações nacionais, anunciou sozinho esta quinta-feira a contratação de 38 atrações para se apresentar no Polo Dominguinhos, sendo só duas pernambucanas: o Conde Só Brega e Rafhaella Santos, também da cena brega.

Uma confusão deste tamanho não acontece de um dia para outro. Desde o festival do ano passado, o prefeito vinha reclamando de falta de atenção do Governo e de demora na liberação de informações sobre o Festival. Segundo Renata Borba, os problemas começaram porque “o estado só tinha no orçamento feito no Governo anterior, R$ 6,5 milhões para investir no evento e o prefeito queria um festival de R$ 21 milhões, alegando que fora esse o gasto de 2022, no governo Paulo Câmara”. Segundo ela, ele não concordou que o estado não tivesse os recursos pretendidos “e fez tudo para boicotar o nosso trabalho, até vaiados nós fomos pelos funcionários comissionados da Prefeitura.”

Este ano, a governadora colocou no orçamento R$ 17 milhões para o evento mas, mesmo assim, não houve acordo. Nem mesmo quando o estado se comprometeu a custear o pagamento dos artistas já contratados pelo município. “O FIG é enorme e não se restringe aos shows noturnos no Polo Dominguinhos. Tem mais de 20 polos englobando teatro, cinema, moda, gastronomia, música, literatura, cultura popular, um polo regional para as pessoas de mais idade, polos infantis de cultura, ou seja, uma gama imensa de atividades todas planejadas e feitas como manda a lei”.

Como fica a situação a partir de agora quando as pessoas frequentadoras do FIG começam a se programar para estar em Garanhuns em julho quando o evento acontece? O governo, mesmo se retirando da organização, vai, conforme promete a Fundarpe, fazer um patrocínio para o FIG – o valor ainda não está definido - como acontece em todos os eventos tradicionais do estado mas vai exigir que os recursos entregues à Prefeitura sejam usados exclusivamente para contratação de artistas pernambucanos.

Apesar disso, há outras contendas em marcha. Ao mesmo tempo em que decidiu municipalizar o FIG, o prefeito solicitou o registro da marca do festival e o estado não aceitou, alegando que ela é estadual. Os dois entraram com ações na justiça.

Pelo visto, infelizmente, a briga só está começando.

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