Por Bianca Pimentel
Assista aqui: https://www.youtube.com/watch?
O artista plástico, educador e reciclador recifense Ermiro Augusto de Souza Lima Júnior, mais conhecido como “Jacaré”, com trajetória nas artes visuais e na educação ambiental, lança uma novidade para o meio digital. Uma websérie, com cinco oficinas virtuais, ensinando o passo a passo da produção de obras de arte, feitas com um tipo de lixo reciclável facilmente encontrado nos lares brasileiros.
As oficinas “Transformando Tudo com o Artista Jacaré” são resultado do projeto “Atelieco Jacaré”, um dos contemplados no Edital de Artes Visuais do Funcultura – PE, em 2020, para a manutenção das atividades do espaço criativo do artista. Com a chegada da pandemia, o projeto foi adaptado para um formato audiovisual e online. O projeto é mais uma parceria com Bianca Pimentel, que vem produzindo o artista desde 2015 e assina roteiro e direção na websérie.
A websérie está disponível no YouTube e no site do artista. Ela tem por missão ajudar as pessoas em suas reciclagens caseiras e também ser uma ferramenta de apoio ecopedagógico nas escolas e ambientes de formação.
Nas videoaulas, o artista ensina técnicas de modelagem em objetos tridimensionais, dá dicas sobre materiais e uso de ferramentas, além de incentivar a liberdade criativa dos internautas. O conteúdo, além de contar com uma versão traduzida para o inglês, tem legendas em português e Janela de Libras.
Jacaré é, antes de tudo, um catador. Tipo de pessoa que não pode ver uma garrafa indo parar na lixeira, um móvel sendo largado numa esquina, uma lata sendo desprezada após o seu uso. Ele enxerga personagens e mil possibilidades de reaproveitar e transformar tudo em arte.
Além de educador, é um formador de opinião e consciência ecológica que vem, desde a década de 1980, atuando com arte e educação ambiental, criando e recriando obras de arte a partir do lixo.
Com um estilo que passeia livremente entre a essência do Naïf, a vibração da plástica psicodélica, além de pitadas de crítica à arte conceitual – pautada no materialismo e consumo da sociedade – ele pinta, desenha, faz esculturas, telas e mistura vários elementos da cultura pop e conceitos sustentáveis em suas peças.
Aos 63 anos, 40 dedicados exclusivamente à reciclagem e à arte – com um filme lançado internacionalmente e duas vezes premiado –, Jacaré dá início a uma nova jornada, desta vez, mergulhando fundo no mundo digital.
Artista Jacaré: a história
Na década de 1980 já customizava roupas e acessórios no Recife. Circulou pela Bahia, onde aprendeu importantes técnicas de modelagem tridimensional, atuando como joalheiro, e pelo Rio Grande do Sul, onde ministrou oficinas em escolas públicas e desenvolveu seus primeiros personagens de sucata, encontrando no arame um grande aliado nas amarrações de pequenas e grandes esculturas.
Já morou numa cabana à beira mar e participou de eventos internacionais de reciclagem, como o Festival Drap Art – uma maratona de reciclagem em Barcelona, na Espanha –, e o Braderie de l’Art – festival de criação livre dedicado à reciclagem, em Paris, na França.
De volta ao Recife, atuou amplamente como educador na década de 90, quando também nascia o manifesto “Caranguejos com Cérebro”, escrito por Fred Zero Quatro, um dos idealizadores do Manguebeat, ao lado da banda Chico Science & Nação Zumbi e de outros artistas e ativistas.
Jacaré absorveu o importante ecossistema cultural que se firmava e foi convidado a integrar a equipe de oficinas do projeto “Acorda Povo”, que levou arte, cultura e informação às periferias da cidade.
No início dos anos 2000, Jacaré participou de grandes projetos de decoração, a exemplo da ornamentação do Carnaval do Recife (2001), com a temática Manguebeat e a decoração natalina da Praça do Entroncamento (2007), onde ergueu uma árvore de natal de 5 metros de altura, além de produzir vários outros decorativos à base de reciclagem.
Neste período o artista Jacaré participou ativamente do circuito de ateliês que se firmava na cidade e integrou o ateliê coletivo Submarino (2002), no bairro de Santo Amaro; fundou o Ateliê do Poço (2004), no Poço da Panela e montou o Centro Cultural Cafundó (2008) na comunidade do Cafundó, no bairro do Espinheiro, que também serviu como um dos pontos de convergência do Spa das Artes.
Em 2015, transformou em ateliê, a casa onde morou a vida toda com a família. O espaço tinha vários ambientes, loja colaborativa e sala de oficinas, além de uma galeria permanente, que abrigava obras de diversos artistas da cidade. O local também ficou conhecido como ponto de encontro de ciclistas, artistas e ativistas, às quintas-feiras, nas Ecoquintas Jacaré, encontros de arte pautados na economia criativa e solidária.
Em 2018, mudou-se para o bairro de Campo Grande, onde montou um novo ateliê e lançou o projeto “Cine Jacaré”, um espaço de divulgação e debates sobre cinema, audiovisual, cultura e educação com a proposta de difusão da consciência socioambiental por meio do diálogo entre as pessoas e o cinema.
Em 2022, mudou-se novamente, desta vez retornando a um bairro que já foi sua morada no passado, o Poço da Panela, onde atualmente vem desenvolvendo novas telas e esculturas e se preparando para retomar as atividades presenciais.
Além de artista plástico, Jacaré é um formador de opinião e consciência ecológica. Em seu ateliê, uma espécie de “santuário”, onde guarda um pouco de tudo o que encontra pelo caminho, nada se perde, tudo se transforma.
Ele cria e recria esculturas de sucata personificando a natureza, os animais e super-heróis que lutam pelo meio ambiente. Em todo canto da sua casa/ateliê tem um montinho de lixo reciclável à espera da sua criatividade inventiva.
Sua obra vai muito além da reutilização de resíduos. Suas peças encantam, mas também denunciam e combatem na prática o mundo do descartável, abrindo um leque de reflexões e debates importantes para o desenvolvimento sustentável.
Detentor de uma criatividade incessante, ele dialoga com todos os públicos e pretende que sua arte seja uma ferramenta de transformação social incentivando debates sobre a problemática do lixo e a importância da educação ambiental na vida das pessoas.
Atividades recentes do artista Jacaré
Em junho deste ano, a convite da Fundação Joaquim Nabuco, por meio da Biblioteca Blanche Knopf, em parceria com o Programa Manuel Bandeira de Formação de Leitores da Prefeitura do Recife, o artista participou de uma roda de diálogos sobre o movimento Manguebeat, junto ao comunicador Roger de Renor e o produtor cultural Paulo André.
“Pernambuco embaixo dos pés e minha mente na imensidão: 30 anos do Movimento Mangue”, uma programação que contemplou exposição, ciclo de conversas e exibição de filmes e documentários sobre a efervescência cultural na década de 1990.
E em julho, convidado pela organização da 22ª Fenearte (Feira Nacional de Negócios do Artesanato), integrou uma das rodas de “Conversas Instigantes”, realizadas no Espaço Janete Costa, reunindo pesquisadores, artistas e ativistas do Manguebeat, para um bate-papo sobre o movimento e seu legado na cultura Pernambucana.
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