quarta-feira, 30 de agosto de 2023

ANÁLISE POLÍTICA: As dificuldades de Raquel Lyra no exercício do poder



Cientista político de Caruaru analisa problemas de gestão da governadora do PSDB, no cenário atual

A governadora Raquel Lyra - DIVULGAÇÃO

Por Vanuccio Pimentel - Cada dia fica mais evidente que o quadro político em Pernambuco está em profunda modificação. Também tem ficado mais evidente que, para além dos desafios da gestão do estado de Pernambuco,
a governadora Raquel Lyra enfrenta sérias dificuldades na articulação política e na construção de uma aliança partidária.

A figura do governador do estado sempre teve papel central na política. Em primeiro lugar, pelo poder de atração política do cargo e a capacidade aglutinadora das forças políticas estaduais. E em segundo, pela capacidade de aportar recursos financeiros e dividendos políticos para os municípios e dar sobrevida às forças políticas locais.

A governadora Raquel Lyra até o momento não conseguiu ser atrativa para os prefeitos. Até agora, o PSDB não conseguiu atrair os prefeitos para o partido, algo que se esperava desde o final do ano passado. Essa situação revela um pouco do cenário complexo que vamos encontrar nas eleições municipais em 2024.

No entanto, a falta de atratividade da governadora não se deve apenas às questões partidárias, mas principalmente à diminuição do poder centrífugo do governador. Em outras palavras, a governadora tem perdido o poder de aglutinar prefeitos, formar uma aliança robusta para enfrentar as eleições de 2024 e pavimentar o caminho para sua própria reeleição em 2026.

É certo que o PSDB se tornou um partido nanico após as eleições de 2022. Além disso, o partido optou por fazer uma oposição isolada ao governo federal, pois também se colocou distante do bolsonarismo. A perda de musculatura deixou o partido desinteressante para prefeitos que buscam uma estrutura partidária (leia-se fundo eleitoral e tempo de mídia) capaz de garantir espaço confortável para uma disputa majoritária.

Por esse ponto de vista, a especulada ida da governadora para o PSD seria menos ruim, mas ainda estaria muito longe de resolver o problema. Pois, para além da questão partidária, pesa de maneira muito forte a baixa capacidade de investimento do governo estadual.

Eduardo Campos já percebia essa tendência desde 2010 quando se reelegeu. Assim, em 2013 ele criou o FEM (um engenho político-financeiro sustentado com dinheiro emprestado) que alimentou os municípios pernambucanos com recursos para execução de projetos com foco no desenvolvimento. Isso permitiu aos municípios o acesso a um recurso novo que potencializou politicamente os aliados e gerou forte poder de atração para o governador, que conseguiu impulsionar o seu projeto nacional e ajudou a garantir a eleição do seu sucessor, mesmo com o seu desaparecimento.

Raquel Lyra não dispõe de um mecanismo desse porte. A situação fiscal do estado é bem complexa e a expectativa de déficit nos próximos anos é real. A redução da capacidade de investimento reduz significativamente o poder de atração política da governadora.

Outro ponto importante são os deputados federais. Como já previsto desde o ano passado, o crescimento dos valores das emendas parlamentares individuais, transformou os parlamentares federais em uma importante fonte de recursos financeiros e políticos para os prefeitos. Dessa maneira, os parlamentares federais passam a disputar junto com a governadora o poder de atração de prefeitos.

O desafio que se apresenta para a governadora Raquel Lyra não é o de apenas encontrar um partido mais atrativo para os prefeitos, mas passa, sobretudo, por reconstruir o poder centrífugo do governador do estado.

Diante do quadro complexo, uma saída possível é o reposicionamento no âmbito nacional. Do ponto de vista político e partidário, o melhor caminho é ampliar a sua relação com o governo federal - que pode garantir apoio político e suporte financeiro aos projetos da governadora - e atrair o PT para uma posição mais próxima ao governo. Sem isso, o caminho tende a ser mais complicado para Raquel Lyra.

(*) Vanuccio Pimentel é doutor em Ciência Política e professor adjunto II ASCES-UNITA

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