Nós, brasileiros, aprendemos que nossa cidadania é suficientemente exercida apenas com reclamações nas redes sociais e nos transportes coletivos. As autoridades já se deram conta disso e dão pouca importância para essas reclamações.
A população fica passiva, com mais de quarenta mil assassinatos por ano, desde 1997. Foi nesse ano que o Brasil atingiu essa marca e nunca mais ficou abaixo disso. Ao contrário, em 2017, alcançou calamitosos 65.602 homicídios. E tudo transcorreu na maior “paz” do mundo.
Governadores, secretários de segurança, ministério e muitos especialistas apontam todas as formas de diagnósticos, mas a matança continua. Alguns defendem a ação armada das polícias militares, que não tem sido suficiente, sendo o Rio de Janeiro e, agora, a Bahia, provas de que somente o Estado matando não resolve.
Câmeras nos uniformes têm diminuído substancialmente as mortes provocadas por policiais, nos já famosos e duvidosos “confronto” e “resistência”.
Autoridades, estudiosos e especialistas dão as mais variadas explicações para a continuidade da violência em números estratosféricos e sem diminuição continuada. Os principais argumentos são o baixo número de esclarecimento e punição dos autores. Mas, mesmo que cem por cento fossem esclarecidos, as medidas relevantes deveriam visar à prevenção. Afinal, seria muito mais relevante salvar dez mil vidas do que punir 80 a 100.000 assassinos todo ano, já que, na maioria das mortes, envolvem-se alguns ou vários autores.
A criminalidade é um problema oriundo de vários fatores e não existe uma bala de ouro para a solução. Mas, com certeza, a solução só virá com uma tomada de posição decisiva dos governos, ao se decidirem por criar ações preventivas.
Sociedade e governos encontram-se totalmente rendidos a todo tipo e nível de transgressão, que começa com pequenas infrações sociais. Os flanelinhas dominam as ruas próximas aos eventos e a opção, para o cidadão, é se render à extorsão ou ter o carro danificado; os vendedores ambulantes, estes são encontrados nas linhas públicas de metrô/SP, mas nas linhas particulares não se vê um único.
As pichações são costumeiras em quase todos os prédios, em todas as cidades brasileiras. Em alguns muros, são colocados pedidos para não picharem, alegando que contribuem com determinadas instituições sociais. As calçadas e espaços públicos são tomados por barracas, formando moradias. Com toda autoridade, as pessoas particularizam um espaço público e o tornam propriedade privada. Os bailes funks atravessam noites seguidas, sem nenhuma força oficial capaz de pará-los ou de evitá-los. O mesmo acontece nas cidades pequenas e médias, com os carros com seus “pancadões” engatados, que não permitem nem que as pessoas conversem dentro de suas próprias casas.
E a maior demonstração de rendição total é a Cracolândia/SP, que deve ter começado com algumas poucas pessoas há trinta anos. As autoridades, demonstrando aceitação e tolerância, e até sendo condescendentes, deixaram transformar-se num problema grave, quase insolúvel, com milhares de pessoas fumando, bebendo, roubando e todos somente assistindo. Mas os discursos, as justificativas e os diagnósticos continuam...
Pedro Cardoso da Costa
Interlagos-SP
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