Por Ricardo Antunes – Criticada pela oposição por falsas acusações de imobilismo, aliás uma característica do seu antecessor Paulo Câmara, a governadora Raquel Lyra tem demonstrado justamente o contrário.
Ao determinar, pela Corregedoria-Geral do governo, a suspensão do suspeitíssimo acordo do Detran com entidade presidida pela tia do diretor-presidente Carlos Fernando Ferreira da Silva Filho, a governadora não só desautoriza a diretoria da autarquia – que, se tivesse um mínimo de honradez, pediria demissão – como demonstra não ter compromisso com o erro.
A denúncia com exclusividade do nosso blog provocou reação rápida da governadora. Foi postada no blog na sexta-feira passada, quando Raquel curtia merecida pausa no litoral sul, e três dias depois, incluindo um fim de semana, o Detran foi obrigado a dar marcha a ré na ilegalidade que perpetrara.
Raquel barrou uma farra de R$ 180 milhões, valor estimado que renderia à Anoreg-PE (Associação dos Notários e Registradores) o monopólio flagrantemente ilegal do registro dos contratos de financiamento de veículos com que o diretor-presidente do Detran tentou presentear a entidade comandada pela tia.
Não existe nada mais desabonadores para a imagem de qualquer governo, especialmente em ano eleitoral, como agora, do que a omissão e o silêncio diante de denúncias de malfeitos na sua administração.
No mês passado, num telefonema irritado, a governadora mandou o presidente do IPA (Instituto de Pesquisas Agronômicas), Joaquim Neto, ex-prefeito de Gravatá e seu correligionário de partido, o PSDB, candidato a retornar ao cargo, sustar a contração, sem licitação, pela bagatela de R$ 610 mil, de um hotel na cidade para confraternização dos funcionários. A denúncia foi postada igualmente pelo blog, mais uma vez com exclusividade.
Raquel tomou idêntica atitude em setembro último, alertada por outra denúncia exclusiva do blog, sempre vigilante sobre práticas desonestas no setor público. Suspendeu um contrato sem licitação de fabulosos R$ 52,5 milhões para a realização de uma feira de livros, na Arena Pernambuco, que duraria 10 dias – o que representaria um gasto público de R$ 5,25 milhões diários.
Seria uma mostra de valores superiores a eventos semelhantes de projeções nacional e internacional, como as Bienais do Livro do Rio de Janeiro e de São Paulo e a Feira Literária de Paraty, no litoral fluminense. A imoralidade da contratação era visível, porque não havia, a duas semanas do início da feira, qualquer material de divulgação e sequer grade de programação.
Tão grave quanto a contratação sem licitação para a realização da Fenelivro (Feira Nordestina do Livro) é que a empresa executora, a Andelivros, pertence a um operador notoriamente ligado ao PSB opositor ferrenho de Raquel, Afonso Alves de Carvalho, ex-assessor do ex-deputado federal Gonzaga Patriota.
Tanto nos casos do Detran quanto do hotel em Gravatá e da Fenelivro, a governadora agiu a tempo – e espera-se que continue a fazê-lo diante de novas denúncias de tentativas de malversação de dinheiro público do estado.
Afinal, como diz o sábio ditado, “a mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta”. Como fez o imperador Júlio César, em 62 Ac, divorciando-se de sua mulher Pompeia Sula por promover uma festa suspeita, Raquel Lyra precisará, doravante, divorciar-se de subordinados suspeitos de desvios de probidade.
É a atitude que se roga venha a tomar, em coerência com as medidas suspensivas, com Carlos Fernando Ferreira da Silva Filho, apadrinhado pelo aliado clã dos Ferreira, detentor de votos preciosos, é verdade, mas não intocável, e de Joaquim Neto.
Poderia aproveitar a reforma que pretende fazer no secretariado em março e atirar ao mar os ratos da sua nau.
Raquel sabe que qualquer vacilo será usado contra ela em 2026 e, já agora, contra seu candidato em outubro à prefeitura do Recife, o ex-deputado federal e secretário de Turismo e Lazer Daniel Coelho.
Ela conhece como ninguém o “modus operandi” do marketing do arqui-inimigo PSB. É isso.
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