Por O Globo – Após rejeitar uma aliança com o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e perder toda a sua bancada de vereadores na Câmara Municipal, o PSDB agora recalcula a rota em busca de um rumo para o partido na eleição municipal de São Paulo, cidade que tem o maior colégio eleitoral do país e é berço político da legenda. As alternativas sobre a mesa envolvem os nomes de Tabata Amaral (PSB), José Luiz Datena (PSB), Kim Kataguiri (União Brasil) e Andrea Matarazzo (PSD), que deixou a sigla em 2016.
O PSDB está mergulhado em uma crise na capital paulista que perdura há meses e se agravou no último mês, quando a Executiva provisória, liderada pelo ex-senador José Aníbal, votou por não apoiar a reeleição de Ricardo Nunes, eleito em 2020 na chapa do tucano Bruno Covas (1980-2021).
Os oito vereadores da bancada tucana no Legislativo Municipal, juntamente com a maior parte da militância tucana de São Paulo, defendiam que a sigla caminhasse ao lado do emedebista, indo de encontro à posição de Aníbal e de outras lideranças de fora capital paulista, como o governador gaúcho Eduardo Leite e o presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo. Em entrevista ao GLOBO em fevereiro, Leite disse que a associação de Nunes a Jair Bolsonaro (PL) não está alinhada com o projeto que o PSDB busca construir nacionalmente. A fala de Leite foi rechaçada por tucanos pró-Nunes, incluindo o filho de Covas, Tomás. Aníbal também atacou a aliança com Bolsonaro, mas passou a pleitear, sem sucesso, a indicação do vice de Nunes.
Nos últimos dias, a filiação de Datena passou a ser uma das opções estudadas. O apresentador se filiou ao PSB em dezembro do ano passado, com a expectativa de ser indicado como vice na chapa da deputada federal Tabata Amaral, pré-candidata do PSB. Segundo correligionários de Tabata, uma ala do PSDB, comandada por Perillo e Leite, trabalha para que Datena retire o apoio à parlamentar e seja ele o candidato a prefeito de São Paulo pelo PSDB. Outra ala, porém, encabeçada por Aníbal, defende que ele se filie aos tucanos para ser o vice de Tabata, numa composição com o PSB. Aliados de Datena dizem que as duas legendas ainda estudam a possível aliança.
A aliança com o PSDB tornou-se a principal prioridade de Tabata na pré-campanha. No entanto, além da disputa por Datena, outros dois fatores contribuem para afastar a deputada dos tucanos. O mais significativo é o veto da governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), a uma composição com o PSB. Ela considera que seria como se aliar ao “inimigo”, já que o PSB é o partido do prefeito do Recife, João Campos, adversário de Lyra no estado e namorado de Tabata. Além disso, há o cenário de um possível segundo turno entre Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes, no qual Tabata provavelmente apoiaria o líder dos sem-teto. Alguns tucanos consideram “contraditório” o partido apoiar o mesmo candidato que o PT na capital paulista, onde as duas legendas sempre foram rivais.
Também nos últimos dias o deputado federal Aécio Neves (MG) foi escalado para tentar convencer Andrea Matarazzo a se filiar novamente ao PSDB para ser o candidato do partido à prefeitura de São Paulo, ideia que é ventilada por alguns tucanos desde o ano passado. Na última eleição municipal, de 2020, Matarazzo concorreu ao cargo de prefeito pelo PSD, terminando a disputa com apenas 1,55% dos votos válidos, em oitavo lugar. A aliados, Matarazzo tem dito que não deve aceitar o convite, pois, na visão dele, já está tarde para o partido articular a candidatura.
Outra hipótese cogitada foi a filiação do deputado federal e fundador do Movimento Brasil Livre (MBL), Kim Kataguiri, que não angariou apoio à sua pré-candidatura no União Brasil. O cenário foi descartado por integrantes do diretório municipal do PSDB, que não enxergam sinergia entre o deputado e o partido. Mesmo se houvesse aceitação ao nome de Kim, a filiação teria um empecilho importante: para deixar o União, o deputado precisaria receber autorização do partido, renunciar ao mandato na Câmara ou enfrentar uma disputa na Justiça Eleitoral, três cenários pouco prováveis. Isso porque a janela partidária, período no qual políticos podem trocar de partido sem perder o mandato, vale apenas para vereadores. Procurado, Kim não respondeu até a publicação desta reportagem.
Diante de tantas incertezas, alguns membros do PSDB ainda mantêm a expectativa de que José Aníbal, presidente do diretório municipal, possa ser o candidato do partido na eleição. Por outro lado, aliados de Nunes também esperam que o PSDB apoie sua reeleição. Segundo o entendimento do entorno do prefeito, cabe à federação PSDB-Cidadania, liderada pelo prefeito de Ribeirão Preto, Duarte Nogueira (PSDB), dar a palavra final sobre o posicionamento da sigla na eleição municipal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário