quinta-feira, 9 de outubro de 2025

O poder do cofre em 2026

 

Foto: Ricardo Stuckert

Por Edmar Lyra

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrará em 2026 com um trunfo que nenhum chefe de Estado recente teve às vésperas de disputar a reeleição: R$ 843,6 bilhões à disposição para executar programas, obras e políticas públicas em todo o país. O dado, extraído do SIOP (Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento), revela um poder orçamentário sem precedentes e coloca o governo federal no centro da disputa política que definirá os rumos do próximo ciclo eleitoral.

Desse montante, R$ 157,9 bilhões virão de emendas parlamentares e investimentos diretos — recursos que se traduzem em obras visíveis e de forte apelo local. As emendas individuais somam R$ 26,6 bilhões; as de bancada, R$ 11,3 bilhões; e as de comissão, R$ 2,9 bilhões. O Novo PAC, carro-chefe da infraestrutura federal, contará com R$ 55 bilhões, enquanto os investimentos diretos do Executivo (GND 4) alcançarão R$ 62,1 bilhões. Trata-se de uma engrenagem orçamentária que permite ao Planalto ampliar presença e influência em todas as regiões, consolidando a imagem de um governo que entrega resultados.

Comparado ao orçamento de 2025, que já previa mais de R$ 476 bilhões em despesas discricionárias e emendas, o salto é expressivo. Em 2026, o governo não apenas terá mais recursos, mas também um arsenal de programas sociais e econômicos com alto potencial de mobilização eleitoral. Serão R$ 331,6 bilhões destinados a ações estratégicas, entre elas o Bolsa Família (R$ 158,6 bilhões), a ampliação da isenção do Imposto de Renda até R$ 5 mil (R$ 31,3 bilhões), o “Desenrola Brasil” (R$ 53,2 bilhões), o Minha Casa, Minha Vida (R$ 33,6 bilhões) e o pagamento de precatórios (R$ 92 bilhões).

Esses números não são apenas contábeis. Eles representam o poder de entrega do Estado em um ano em que Lula buscará renovar seu mandato e reafirmar seu legado político. Em um cenário de reeleição, a capacidade de mostrar obras, ampliar programas e impulsionar o consumo interno se torna um ativo eleitoral de peso — especialmente em um país onde o voto é fortemente influenciado pela presença concreta das ações governamentais no cotidiano das pessoas.

O Novo PAC, com obras em todos os estados, funcionará como vitrine permanente do governo. Já os programas sociais, reforçados em 2026, alimentam a narrativa de um presidente que mantém o foco na inclusão e na redução das desigualdades. Ao mesmo tempo, a execução das emendas e dos investimentos diretos amplia o campo de alianças, atraindo prefeitos e governadores — inclusive de partidos que hoje fazem oposição moderada ao Planalto.

Com R$ 843,6 bilhões prontos para investir, Lula chega ao ano eleitoral com o maior poder financeiro e político de um presidente desde a redemocratização. O orçamento de 2026 não é apenas uma peça contábil — é um instrumento de poder. E, numa eleição em que obras, programas e resultados falarão mais alto que o discurso, o cofre cheio pode ser o maior cabo eleitoral do petista em sua tentativa de permanecer no Planalto até 2030.

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