domingo, 20 de fevereiro de 2022

Bolsonaro ganha fôlego na disputa com Lula

 Por José Casado*


Ontem à noite, o candidato do Psol ao governo de São Paulo Guilherme Boulos usou uma rede social para mandar uma mensagem aos seus aliados do PT: “[Jair] Bolsonaro, apesar da aparência de cachorro morto, pode crescer onde hoje as pesquisas menos indicam: o eleitorado popular, as periferias do Brasil” — escreveu numa rede social.

Boulos concorreu à Presidência da República na eleição vencida por Bolsonaro, em 2018. Terminou em 10º lugar, com 617 mil votos (0,58% do total).

Dois anos depois, surpreendeu na disputa pela prefeitura da capital paulista: perdeu para o falecido Bruno Covas (PSDB), mas saiu do segundo turno com 2,1 milhões de votos (32%).

Aos 39 anos, psiquiatra e integrante do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MST), Boulos conhece a vida na periferia paulistana — mora em Campo Limpo, na Zona Sul, onde estão seis dos dez bairros mais afetados pela pandemia.

Aliado de Lula, favorito nas pesquisas, ele percebeu indícios de avanço do adversário, e resolveu registrar, preocupado com o clima de “já ganhou” no PT que, aparentemente, distancia da periferia urbana, onde a força da pressão eleitoral do governo começa a ser percebida.

“Lula é favorito, mas a eleição não está ganha”, insistiu. “Pode parecer um contrassenso, dada a popularidade de Lula entre os mais pobres e particularmente no Nordeste. Mas não é.”

“Seria um erro grosseiro subestimar o efeito de um benefício de R$ 400 para 18 milhões de famílias brasileiras que se encontram na extrema pobreza”— exemplificou. “É a diferença entre comer ou não. Ser despejado ou conseguir pagar o aluguel. Não é pouca coisa em tempos de vacas magras.”

Acrescentou: “Que o Auxílio Brasil seja uma jogada eleitoreira, que tem prazo de validade no fim do ano; que a fome, a inflação e a estagnação econômica foram produzidas pela política deste mesmo governo – tudo isso, quem está no calor da luta política sabe. Mas pode não surtir tanto efeito diante da sensação de melhora de vida para milhões de pessoas atiradas no desespero.”

Novas sondagens eleitorais sinalizam, em fevereiro, avanço de Bolsonaro. Variam as metodologias aplicadas, mas o aspecto comum é a tendência de redução da vantagem mantida por Lula nos últimos oito meses.

A diferença caiu de 14 pontos percentuais para 9 pontos nas últimas quatro semanas, por exemplo, na pesquisa divulgada pelo PoderData, com 3 mil entrevistas telefônicas realizadas entre os últimos dias 13 e 15.

Nela, Lula lidera (40%), seguido por Bolsonaro (31%), Sergio Moro (9%) e Ciro Gomes (4%). Não há crescimento expressivo de Bolsonaro, mas indício de que ele tende a ganhar fôlego.

*Jornalista. A matéria completa está disponível no site de Veja.

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