Por André Beltrão — Com quase 100 processos judiciais em ao menos dez estados e um histórico marcado por polêmicas e erros de dados, o Instituto Veritá deixou também um rastro de problemas nas eleições de 2022, na Paraíba. Lá, a instituição anunciou a vitória de Bolsonaro contra Lula e foi proibida por um desembargador de divulgar pesquisas eleitorais sobre a sucessão estadual.
O Judiciário apontou irregularidades na formulação da consulta popular e na origem dos recursos, além de informar que havia o risco de o instituto ter copiado os dados de um trabalho anterior feito por ele mesmo dias antes. No ano passado, logo depois do segundo turno, sites e jornais de todo o país divulgaram uma lista com os institutos que mais tinham errado os resultados. O Veritá estava entre eles.
O Instituto tem sede Uberlândia (MG) e provocou recente polêmica ao divulgar uma pesquisa de avaliação de governadores, em julho deste ano, e colocou Raquel Lyra (PSDB) em último lugar, com uma “desaprovação” superior a 60%. Uma consulta no site do instituto mostra que a pesquisa foi feita por “iniciativa própria”, mas não diz quanto ela custou.
Em Pernambuco, só nas eleições de 2022, foram 16 processos envolvendo a entidade, candidatos e até uma desembargadora eleitoral.
Pois bem, a história do instituto na Paraíba ficou complicada a partir do dia 15 de novembro do ano passado. Naquele dia, o desembargador Márcio Murilo da Cunha Ramos, do Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba (TRE-PB), proibiu a divulgação da pesquisa eleitoral do Instituto Veritá sobre a disputa para o governo.
Na época, a Justiça alegou que a pesquisa tinha irregularidade na origem dos recursos, além de ser uma cópia de “’outra do próprio instituto, que possui as mesmas características e foi divulgada uma semana antes”.
O desembargador apontou também que o Veritá não seguiu as instruções de pesquisa do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O instituto, disse a Justiça paraibana, ofereceu apenas três categorias de instrução para o entrevistado, em vez de oito, como seria o necessário.
Matérias publicadas nos jornais da Paraíba mostram, ainda, que o desembargador apontou a ausência de registro de “qualquer atuação do responsável técnico pela pesquisa no referido trabalho de fiscalização” pelo instituto.
ERRO
As pesquisas do instituto apontaram a vitória de Bolsonaro contra Lula. No dia 28 de novembro de 2022, dois dias antes das eleições, por exemplo, o Veritá registrou um levantamento para mostrar como votariam os paraibanos.
Informou, por exemplo, que o ex-presidente Bolsonaro tinha 51,5% das intenções de voto e o petista ficaria com 48,5%. Quando as urnas foram apuradas, o resultado foi totalmente diferente.
Lula venceu na Paraíba por ampla vantagem e com 66,6% dos votos. Teve 1,6 milhão de votos, contra 802 mil de Bolsonaro, que totalizou 33,38%. A diferença entre eles foi de nada menos do que 33,2%.
A imprensa paraibana também apontou erros nos dados de pesquisas para o governo em 2022. Em dois levantamentos, orçados em quase R$ 60 mil, o instituto colocou o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) em segundo lugar, à frente de Nilvan Ferreira (PL) e Pedro Cunha Lima (PSDB).
O governador João Azevêdo (PSB) liderava.
Em pesquisas de outros institutos, Veneziano era o quarto, com Pedro e Nilvan alternando a segunda colocação, dentro da margem de erro.
POLÊMICA
O Instituto Veritá foi fundado em 1985, é comandado por Adriano Silvoni. Uma das grandes polêmicas envolvendo o instituto tem relação com a eleição presidencial de 2014, entre a ex-presidente Dilma Rousseff e Aécio Neves.
Na época, a Folha de São Paulo publicou que informou que o PSDB havia usado “indevidamente” resultados parciais da pesquisa do Instituto Veritá em Minas Gerais que foi realizada para retratar a disputa eleitoral no Brasil como um todo. Claros indícios de ”estelionato eleitoral” e de irregularidades.
O OUTRO LADO
Nós entramos em contato por e-mail para ouvir os diretores do instituto, mas não tivemos respostas. Assim que o instituto se manifeste vamos atualizar a matéria com o chamado O Outro Lado.
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