quarta-feira, 1 de outubro de 2025

A escassez de candidatos médios e o desafio das chapas em Pernambuco

 

Foto: Divulgação

Por Edmar Lyra

As eleições de 2022 para deputado federal em Pernambuco trouxeram um dado que ajuda a explicar o atual xadrez político-eleitoral do Estado: apenas 45 candidatos conseguiram ultrapassar a barreira dos 20 mil votos. Esse recorte mostra o quanto se tornou difícil para os partidos atrair a chamada “cauda eleitoral”, formada por nomes que não disputam as primeiras posições, mas que cumprem papel estratégico ao carregar votos que podem definir quocientes e sobras. Em um sistema proporcional como o brasileiro, no qual a soma de votos da chapa é tão importante quanto o desempenho individual, essa escassez de nomes médios é um problema central.

O cenário para 2026 não aponta grandes mudanças. As legendas mais robustas, como PSD, PSB, PL, Podemos, Republicanos e as federações União Progressista e Brasil da Esperança — formada por PT, PCdoB e PV — devem ser protagonistas na montagem de chapas competitivas. Essas siglas têm a seu favor estrutura, tempo de televisão e nomes já testados nas urnas. Mas até mesmo entre elas o desafio permanece: lançar uma chapa completa de 26 candidatos, sendo 8 mulheres e 18 homens, conforme a legislação, exige mais do que cumprir cotas. Exige nomes capazes de atingir entre 20 e 30 mil votos, faixa cada vez mais rara e disputada no mercado eleitoral.

Esse gargalo tem reflexo direto na estratégia de montagem de chapas. Se por um lado os partidos precisam de puxadores de votos — candidatos com densidade eleitoral acima de 100 mil votos, capazes de carregar a legenda —, por outro lado não podem abrir mão dos candidatos médios, que evitam que as sobras eleitorais sejam aproveitadas pelos adversários. Em 2022, ficou claro que a falta de nomes nessa faixa reduziu o alcance de diversas legendas. O PDT é um exemplo emblemático: não conseguiu eleger deputados federais e ficou pelo caminho justamente por não ter uma chapa com densidade média que compensasse a ausência de grandes puxadores.

A dificuldade tende a se agravar em partidos como MDB, Avante, Solidariedade e Rede Sustentabilidade. Sem um candidato competitivo ao governo do Estado ou estrutura de campanha que gere atratividade, essas legendas correm o risco de sequer montar chapas completas. A consequência é a tendência de migração de quadros para partidos que ofereçam maior perspectiva de vitória. Nesse contexto, PSD e PSB devem se tornar polos atrativos. Ambos terão candidaturas ao governo estadual e, com isso, ampliam sua força de convencimento para filiar nomes que, sozinhos, não alcançam eleição, mas que somam para a conta final.

O jogo para 2026, portanto, não será apenas sobre nomes majoritários ou grandes puxadores de votos. Será sobre a capacidade de cada partido ou federação de preencher sua chapa com candidatos que entreguem desempenho consistente, ainda que sem perspectiva de vitória. Com a escassez de nomes médios, a articulação política, a capacidade de negociação e a oferta de palanques competitivos serão determinantes. Em um ambiente onde votos de 20 a 30 mil se tornaram mercadoria rara, montar uma boa chapa é mais do que uma obrigação legal: é a diferença entre eleger ou não eleger.

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