segunda-feira, 31 de julho de 2023

O FIG SE VAI...

*Gerson Lima


Praça Mestre Dominguinhos

“A praça é do povo como o céu é do condor”, diria novamente Castro Alves. E no FIG se confirmou a sentença do poeta na fugacidade dos dez dias que tiveram as horas engolidas, sem mastigar. Vi, na leveza do seu canto, Geraldo Azevedo fugir com todos num Dia Branco. Um dia Branco como esse, em que não se vê mais nas ruas e nas praças o povo caminhando como se pisassem em brasas. Mesmo em noites de fiasco num lugar, havia glamour em outros e quem se dispôs a esticar as canelas se encontrou com a beleza. Me dispenso a comentar sobre essa ou aquela atração, mas a turma do Teatro Mágico esbanjou sofisticação de performance bem acima da compreensão do público. “Quando há ferrugem em meu coração “de lata” – Quando há ferrugem, meu coração “dilata”, cantou a trupe de clowns músicos. A atmosfera telúrica me encantou e a inteligência das letras, também. Outros desfilaram seu canto e encontraram também sua alma gêmea...Então valeu. E nesse Dia Branco nosso coração se dilata ao puxar as melhores lembranças do que foi encanto, encontros, reencontros, ternura, frio, chuva, cores, música e tudo o mais que alimenta a vida. Sim, “a arte existe porque a vida só, não basta”. E nesse Dia Branco quem escreve nas páginas é cada um. Ao fitar o eixo da cintura da moça do Afoxé, percebi que rodopiar dá resistência a alma. No som das alfaias do Maracatu derrubamos todos muros e há, nos acordes de todos os instrumentos tocados, um pulsar que impulsiona o sonho. O FIG se foi e nos resta um Dia Branco, limpinho para escrever de novo. ”E se você vier...pro que der e vier...comigo...Eu te prometo o sol, se hoje o sol sair...Ou a chuva...se a chuva cair...” ,num FIG vindouro. No reino das artes você também foi majestade e valeu por cada abraço, cada beijo, cada sorriso, cada cumprimento, cada presença ativa no aplauso. Que seja sempre território de todos e propriedade comum, esse bem imaterial chamado cultura. Se bem feita, a serenata de um até breve por ser doce. E eu, andarilho de mim mesmo, lhe faço o aceno gracioso de quem espera no porto, num Dia Branco. E, “se você vier, até onde a gente chegar, numa praça na beira do mar, num pedaço de qualquer lugar”, seremos felizes de novo em mais um FIG.

(*) Gerson Lima é Produtor, Teatrólogo, e Radialista
Texto extraído do Facebook

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