domingo, 30 de julho de 2023

FIG 2023: Carlinhos Brown energizou Garanhuns com axé, amor e muita alegria

O baiano que foi anunciado como atração-extra, fez um dos melhores shows desta edição


Por Leonardo Vila Nova



Carlinhos Brown fez um dos melhores shows desta edição do FIG - Foto: Felipe Souto Maior - SecultPE/Fundarpe

Anunciado, na última quinta (27), como “atração extra” na programação do 31º Festival de Inverno de Garanhuns, o músico Carlinhos Brown fez um dos shows mais poderosos que se pode ver nesta edição. Em uma noite/madrugada de sábado (29) para domingo (30) que aparentemente seria morna, o baiano fez uma apresentação ao mesmo tempo emocionante, animada em altíssimo grau e amorosa, transformando totalmente a energia do Palco Mestre Dominguinhos, que recebera, antes dele, Jam 212, Zeh Lucas, Volver, Ave Sangria e Paulo Miklos.

Psicodelia recifense

A banda Ave Sangria vem celebrando 50 anos de existência, com o lançamento do seu primeiro álbum, antes de ter o seu voo interrompido pelo conservadorismo da ditadura militar, a lendária e mais cultuada banda da psicodelia recifense dos 1970 fez uma apresentação em que basicamente relembrou os tempos do disco “Ave Sangria” (1973).

No entanto, eles abriram o show com “Vendavais”, música-título do segundo disco da banda, que só veio a ser gravado e lançado em 2019, ainda com Paulo Rafael na guitarra, papel assumido agora por Breno Lira, da “ala mais nova” da banda, da qual também fazem parte Juliano Holanda (baixo), Gilú Amaral (percussão) e Júnior Do Jarro (bateria). Da banda original, os criadores Marco Polo (voz) e Almir de Oliveira (semiacústica e voz).

Marco Polo é o vocalita da cinquentenária banda Ave Sangria. Foto: Felipe Souto Maior - SecultPE/Fundarpe

Enquanto Marco Polo é o principal vocalista, Almir cantou as músicas “Silêncio Segredo” - a outra canção do “Vendavais” que figurou no repertório do show - e “Dois Navegantes”. No mais, todas canções do disco de 1973: “O pirata”, “Por quê”, “Lá fora”, “Seu Waldir”, “Cidade grande”, “Hey Man”, “Geórgia, a carniceira”. O público pediu “bis” ao final do show - e a banda queria tocar mais uma - mas, por uma questão de controle do horários das apresentações, acabou não acontecendo.

Homenagem aos Titãs
O cantor Paulo Miklos se apresentou com um repertório dedicado à banda que alçou seu nome - e os de Arnaldo Antunes e de Nando Reis - ao sucesso: Titãs. Em uma pausa na exitosa turnê de reencontro e celebração dos 40 anos do grupo, Miklos aproveitou para vir sozinho ao FIG, mas cantando grandes sucessos de sua época como um dos vocalistas titânicos.

Paulo, que já esteve quatro vezes no FIG – duas com os Titãs e duas, solo - abriu o show com “Diversão”. Daí para frente, desfiou um rosário de sucessos da banda (inclusive as cantadas pelos outros vocalistas): “Flores”, “Lugar nenhum”, “Polícia” e “Televisão” estavam no repertório, assim como as já famosas em sua voz, “Domingo”, “Pra dizer adeus”, “Bichos escrotos” e “Sonífera Ilha”.
 
Paulo Miklos fez um show com grandes sucessos dos Titãs. Foto: Felipe Souto Maior - SecultPE/Fundarpe

As duas músicas que fugiram à regra do repertório estão no seu mais recente disco solo, “Do amor, não vai sobrar nada” (2022): A romântica “É assim que eu sei” e “Sabotae”, em homenagem ao rapper paulistano, morto em 2003 e com quem Miklos dividiu cenas no filme “O invasor”.

“E pensar que Gal Costa estava nesse mesmo palco, ano passado. É uma honra pra gente”, confessou Paulo, emocionado, acompanhado de uma banda majoritariamente feminina, com cinco integrantes: quatro mulheres e um homem.

Ajayô

Até a última quinta (27), ninguém esperava pelo nome de Carlinhos Brown na programação do FIG 2023, até ele ser anunciado. Inclusive, tinha quem duvidava que fosse verdade. Mas foi real: na madrugada de hoje (30), já último dia do Festival, por volta das 1h50, o baiano subia ao Palco Mestre Dominguinhos. O que viria dali pra frente era uma transformação total de energia do público, que pareceu se multiplicar.

Sua banda, com um arsenal percussivo de fazer tremer o chão garanhuense (e qualquer outro chão do planeta), já descarregou, logo de cara, um instrumental poderoso. Brown abriu o show cantando “Vc, o amor e eu”, e, na sequência, veio logo com um sucesso dos Tribalistas, “Velha infância”. O amor foi algo exaltado pelo baiano ao longo de todo o show. Uma lua crescente despontando no céu também o inspirava a tecer loas sobre o sentimento. Para ela, cantou “Muito obrigado, Axé”. E até carta de recém-casados felizes chegou às mãos dele durante a apresentação.

Carlinhos Brown comandou uma multidão no Palco Mestre Dominguinhos. Foto: Felipe Souto Maior - SecultPE/Fundarpe

Depois, uma sequência de músicas mais balançadas, como “Uma brasileira”, “Já sei namorar” e “A namorada” - quando também cantou “O namorado” - em que exaltou o amor homoafetivo e se colocou contra a homofobia, além de “Não quero dinheiro” e “Tempos modernos”.

Com um pique que parecia não esgotar, Brown abriu um bloco de músicas de axé music e também homenageou o frevo pernambucano: “Dandalunda”, “Maimbê Dandá”, “Água mineral” e uma versão de letra sua para “Vassourinha”: “Toda rua de Olinda tem saída pra Bahia”, cantava na letra.
 
Brown desceu do palco e caminhou pela passarela, mais perto do público

Ele comandou uma multidão para ir de um lado para o outro sem se machucar ou causar confusão, desceu do palco e caminhou mais perto do público pela passarela central da praça, jogou rosas brancas e vermelhas para o público, além de trazer a ritualística do candomblé, ao encerrar o show com a música “Ashansu” e dar um banho de pipoca no público, uma oferenda ao orixá Omulú, que simboliza a cura.

Um show impressionante e surpreendente - talvez um dos melhores dessa edição - para quem não esperava a presença do baiano nesta noite/madrugada.

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