quinta-feira, 18 de setembro de 2025

A difícil equação da popularidade de Lula

 

Foto: Sérgio Lima

Por Edmar Lyra

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfrenta um cenário desafiador no campo da opinião pública. A mais recente pesquisa Genial/Quaest, divulgada nesta quarta-feira (17), mostra estabilidade na avaliação de seu governo: 51% desaprovam e 46% aprovam. O dado, embora não represente queda, também não aponta recuperação, revelando que Lula encontra dificuldades em ampliar sua base de apoio junto à população. Em um país de forte polarização política, o resultado indica que o petista ainda não conseguiu transformar a máquina governamental em instrumento eficaz para reconquistar corações e mentes além do seu núcleo tradicional.

A estabilidade nos números pode parecer positiva para o Planalto, uma vez que evita um desgaste maior. Contudo, também expõe um limite preocupante: a aprovação parece cristalizada, sem sinais de crescimento mesmo diante de agendas que, em tese, deveriam impulsionar a imagem presidencial, como programas sociais, investimentos em infraestrutura e políticas de recomposição salarial para o funcionalismo. Essa estagnação sugere que Lula chegou a um teto e não tem conseguido atravessar a barreira de rejeição imposta por parte significativa do eleitorado.

Outro fator que pesa contra o presidente é a conjuntura econômica. Apesar de indicadores como inflação controlada e crescimento moderado do PIB, a percepção popular continua marcada pelo custo de vida elevado e pela dificuldade de acesso a emprego de qualidade. Em política, a economia vivida no dia a dia tem mais impacto do que a economia retratada em relatórios. A sensação de aperto no orçamento doméstico mina qualquer tentativa de narrativa otimista vinda do governo. Assim, mesmo quando os números macroeconômicos parecem razoáveis, o sentimento da população segue negativo, o que se reflete na aprovação presidencial.

Lula também enfrenta resistência em segmentos que, no passado, foram fundamentais para suas vitórias. No eleitorado de classe média, sobretudo nos grandes centros urbanos, o antipetismo continua forte. A disputa simbólica com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que ainda mantém influência significativa, mantém o ambiente político tensionado. O petista fala mais para os convertidos do que para os indecisos, e esse isolamento discursivo dificulta o avanço da popularidade.

Há ainda um componente político-institucional. A relação com o Congresso, embora funcional, é marcada por concessões e negociações constantes, que muitas vezes transmitem à sociedade a imagem de um governo refém de interesses fisiológicos. A demora em aprovar projetos estratégicos e a necessidade de acomodar aliados insatisfeitos reforçam a percepção de lentidão e pragmatismo excessivo, em contraste com a expectativa de mudanças mais concretas.

Para reverter esse quadro, Lula precisaria de duas condições simultâneas: melhorar a percepção econômica da população e oferecer uma agenda política que vá além da manutenção da governabilidade. Ou seja, seria necessário mostrar resultados palpáveis no bolso do cidadão e, ao mesmo tempo, retomar o discurso mobilizador que marcou seus primeiros governos. No entanto, a conjuntura atual é muito menos favorável do que a de 2003 ou 2010.

A pesquisa Quaest, portanto, lança um alerta ao governo: sem avanços claros e imediatos, Lula pode se consolidar como um presidente de aprovação mediana, incapaz de romper a barreira da rejeição. Em um ambiente político tão dividido, isso significa governar sempre sob o risco da instabilidade, sem espaço para erros e sem a força popular necessária para impor grandes transformações.

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