quinta-feira, 4 de setembro de 2025

Entre a condenação e a anistia: o destino de Bolsonaro e o xadrez de 2026

 

Foto: Divulgação STF

Por Edmar Lyra

A cena política brasileira caminha para um desfecho que pode marcar profundamente os rumos das eleições de 2026: a provável condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal. O processo, que envolve acusações graves de ataques ao sistema eleitoral e participação em movimentos antidemocráticos, deverá consolidar a inelegibilidade do líder da direita, já fragilizado por um conjunto de decisões judiciais desfavoráveis. No entanto, o cenário está longe de ser definitivo. Em paralelo à marcha dos ministros do STF, ganha corpo no Congresso Nacional um movimento de anistia, que tem potencial de recolocar Bolsonaro no tabuleiro eleitoral e reconfigurar as disputas que se aproximam.

Na prática, trata-se de um jogo de forças entre duas instituições que têm protagonizado embates cada vez mais explícitos. De um lado, o Supremo atua para fazer valer a Constituição e delimitar o espaço da política dentro das regras democráticas. De outro, o Congresso, pressionado por sua base bolsonarista e por um eleitorado ainda fiel ao ex-presidente, articula uma resposta legislativa que pode relativizar as decisões do Judiciário. Esse embate não é apenas jurídico: é, sobretudo, político. E revela como a crise de 8 de janeiro de 2023 continua projetando efeitos sobre a institucionalidade brasileira.

A anistia, defendida por parlamentares do PL, do PP e de setores do Republicanos, tem como justificativa oficial a pacificação nacional. Argumenta-se que manter Bolsonaro inelegível seria ampliar a polarização e marginalizar milhões de eleitores que se identificam com seu projeto. Os críticos, contudo, veem na proposta um retrocesso, capaz de corroer a autoridade das instituições e abrir precedentes perigosos para a impunidade de autoridades que flertaram com rupturas democráticas. O dilema, portanto, não é apenas sobre o futuro de Bolsonaro, mas sobre o tipo de democracia que o Brasil pretende consolidar.

Enquanto isso, o tabuleiro eleitoral de 2026 permanece em suspenso. Uma condenação sem anistia consolidaria o espaço para novas lideranças da direita, como governadores e senadores que já ensaiam movimentos nacionais. Tarcísio de Freitas, Romeu Zema e Michelle Bolsonaro surgem como opções naturais para herdar parte desse eleitorado, ainda que nenhum deles possua, por ora, o mesmo magnetismo eleitoral do ex-presidente. Já uma anistia poderia devolver Bolsonaro à condição de protagonista, recolocando em marcha sua tentativa de retorno ao Planalto e elevando o nível de tensão com o campo lulista.

O governo Lula, por sua vez, observa com cautela. De um lado, sabe que um Bolsonaro fora de combate abre espaço para uma disputa menos radicalizada. De outro, compreende que a narrativa da perseguição judicial é combustível poderoso para manter a militância bolsonarista mobilizada, especialmente se o Congresso avançar na pauta da anistia. O presidente e seus articuladores têm evitado confrontar diretamente o tema, mas é evidente que o desfecho terá impacto direto na estratégia da esquerda para 2026.

Em resumo, o Brasil vive um momento de encruzilhada institucional. A condenação de Bolsonaro pelo STF parece praticamente certa, mas sua inelegibilidade ainda não é um ponto final. Entre a Justiça e a política, o Congresso se movimenta para dar a última palavra. O que está em jogo vai além da sorte de um ex-presidente: é a definição dos limites da democracia brasileira e de como serão disputadas as próximas eleições. O futuro, mais uma vez, está em aberto.

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