Por Edmar Lyra
A nova pesquisa do Real Time Big Data trouxe um dado que redesenha, ao menos no campo das percepções políticas, a disputa presidencial de 2026: o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), aparece tecnicamente empatado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O levantamento mostra Lula com 42% das intenções de voto contra 40% de Tarcísio, dentro da margem de erro. Embora os números ainda estejam longe de consolidar cenários, a fotografia do momento revela uma força política que pode se materializar nos próximos dois anos.
O primeiro ponto de análise é que Tarcísio representa uma novidade eleitoral em escala nacional. Diferente de Bolsonaro, que já carrega consigo a marca da rejeição e da polarização, o governador de São Paulo combina dois ativos importantes: trânsito no eleitorado conservador, especialmente entre evangélicos e defensores da agenda liberal, e menor desgaste político. Isso o coloca como uma opção palatável para setores que rejeitam Lula, mas hesitam em voltar a Bolsonaro. É justamente nessa interseção que Tarcísio pode crescer.
Outro elemento a seu favor é o comando de São Paulo, maior colégio eleitoral do país. A posição confere ao governador uma vitrine política privilegiada e uma base de recursos — financeiros, políticos e midiáticos — que nenhum outro pré-candidato de oposição possui hoje. Se conseguir mostrar boa gestão e entregar resultados concretos em áreas como segurança, infraestrutura e educação, Tarcísio terá narrativa e credenciais para apresentar-se como alternativa nacional.
A pesquisa também mostra que Tarcísio possui potencial de voto relevante: 38% dos eleitores afirmam que poderiam considerá-lo. Esse dado é crucial, pois revela espaço de crescimento ainda não explorado. Lula e Bolsonaro, por sua vez, enfrentam rejeições cristalizadas que dificultam novas expansões de base. Na prática, isso significa que Tarcísio tem margem para ampliar apoio, sobretudo se consolidar-se como candidato competitivo e atrair o eleitorado de centro.
Por outro lado, os desafios não são pequenos. Tarcísio ainda é dependente da sombra política de Jair Bolsonaro, que foi seu padrinho eleitoral em 2022 e mantém forte influência no campo da direita. Até que ponto conseguirá se descolar sem perder apoio desse segmento? Essa equação é delicada: se permanecer muito atrelado, arrisca-se a herdar também a rejeição do ex-presidente; se romper, pode perder parte significativa da militância bolsonarista.
Além disso, a construção de um projeto nacional exige articulação partidária robusta, capilaridade e alianças em estados-chave. O Republicanos, embora tenha crescido, ainda não tem musculatura para sustentar sozinho uma candidatura presidencial. Caberá a Tarcísio atrair legendas e lideranças que enxerguem nele a real possibilidade de vitória.
O fato é que a disputa de 2026, a julgar por este primeiro levantamento, não se resume mais ao duelo Lula-Bolsonaro. A entrada de Tarcísio na zona de competitividade inaugura uma terceira via com consistência, algo que não se consolidou em 2022. Se o governador souber equilibrar gestão eficiente, narrativa política e independência estratégica em relação a Bolsonaro, poderá chegar a 2026 como o principal antagonista de Lula — e, pela primeira vez em duas décadas, abrir espaço para uma eleição presidencial que não se resuma à polarização tradicional.
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