Por Vera Magalhães, de O Globo — Não é só para definir se haverá ou não segundo turno na eleição presidencial que a região Sudeste será crucial no domingo. Caso a decisão seja postergada para 30 de outubro, o que sair das urnas nas disputas para os governos de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro pode alterar a (não muito grande) vantagem que Lula conserva sobre Jair Bolsonaro nos três estados, de acordo com o Datafolha desta quinta-feira.
Lula tem 42% em São Paulo, contra 35% do presidente. No Rio, o Datafolha mostra vantagem do petista sobre o candidato do PL menor: 42% a 37%. E em Minas a situação é mais confortável para Lula, que tem 47% contra 33% de Bolsonaro.
Mas o cenário das disputas para o governo mostra que pode haver obstáculos no caminho de Lula caso ele não consiga liquidar a fatura no primeiro turno — estratégia única das últimas semanas, inclusive sem que o comando da campanha nacional parasse para analisar cenários caso os 50% mais um dos votos válidos não seja atingido neste domingo.
Em São Paulo, a campanha de Fernando Haddad concluiu, desde a largada, que o melhor seria enfrentar Tarcísio de Freitas (Republicanos) e transpor para o campo estadual a polarização nacional. O desejo parece mais próximo de ser atingido, segundo o Datafolha: Haddad tem 41%, contra 31% de Tarcísio e 22% de Rodrigo Garcia (PSDB).
Resta saber se o cálculo da conveniência será eficaz para Haddad e também para Lula. A diferença nas simulações de segundo turno para o governo de São Paulo vem caindo semana a semana. No início de setembro, Haddad tinha 54%, contra 36% do candidato bolsonarista. Agora, a diferença é de 48% a 40%. Haddad perdeu 6 pontos e Tarcísio ganhou 4.
E a associação direta entre Tarcísio e Bolsonaro pode ser um trunfo para ambos num estado que tem um interior ainda bastante conservador e no qual o PT nunca venceu a eleição para o governo e não vence a presidencial desde 2002. Ainda mais com um mês de recuperação da economia pela frente — Bolsonaro já lidera no eleitorado de 5 a 10 salários mínimos e acima de 10 e vem em leve crescimento entre os pobres.
Em Minas Gerais, caso se confirme a vitória de Romeu Zema em primeiro turno, o governador do Novo se sentirá mais livre para se associar a Bolsonaro sem riscos para a própria reeleição. O Datafolha registra 57% dos votos válidos para Zema, contra 34% de Alexandre Kalil, o candidato apoiado pelo PT. Hoje, Lula quase não tem opositor no segundo maior colégio do país. Mas se for ao segundo turno isso tende a se alterar.
A situação é menos nítida no Rio de Janeiro. A possibilidade de vitória de Cláudio Castro no domingo, que vinha sendo ventilada por seus apoiadores, arrefeceu diante do Datafolha que lhe dá 44% dos votos válidos, contra 31% de Marcelo Freixo. Caso o confronto entre os dois se confirme, Castro será um aliado menos devotado a Bolsonaro que Tarcísio em São Paulo. Ele tem, como Zema, evitado colar sua imagem à do presidente, de seu partido.
Já a possível vitória de Lula em primeiro turno pode ter o efeito em sentido inverso: mexer nos confrontos nos três estados com maior eleitorado.
Tarcísio tende a se beneficiar menos da proximidade com um Bolsonaro derrotado prematuramente, ainda mais se o presidente confirmar a expectativa de que conteste o resultado das eleições.
Liberado de disputar, Lula não deve se ausentar da campanha. A tendência é que dedique energia a eleger petistas em São Paulo, no Ceará e na Bahia e aliados em Minas, em Pernambuco e no Rio. Nesse caso, Bolsonaro tende a ser um espanta-votos, condição contrária à que terá se conseguir empurrar a eleição adiante.
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