Por Felipe Branco Cruz, da Veja – Bastaram 27 anos de vida para Janis Joplin se imortalizar no panteão dos astros sagrados do rock. Morta de overdose, no auge do sucesso, em 4 de outubro de 1970, se ela estivesse viva, completaria 80 anos nesta quinta-feira, 19. Dona de uma voz poderosa e inconfundível, a artista entrou para a história também como um dos símbolos dos loucos anos da contracultura.
Foi justamente essa busca pela liberdade, típica do movimento hippie daquela época, que fez com que Joplin viesse curtir férias no Brasil sete meses antes de sua morte. A cantora queria curtir o Carnaval carioca e, imagine só, se desintoxicar das drogas. A cantora tinha se interessado pelo país após assistir Orfeu Negro (1959), filme ambientado durante a festa momesca. Após deixar todas as drogas em Los Angeles, ela embarcou com sua amiga e figurinista Linda Gravenites para o Brasil e chegou a assistir, inclusive, o desfile das escolas de samba no centro do Rio. Na cidade, ela tentou organizar um showzinho particular, batizado de Unending Carnival, Get It On, mas a apresentação foi proibida pelos militares durante a ditadura.
Quando os jornalistas descobriram que a cantora estava no Brasil, Janis organizou uma entrevista coletiva caótica no Copacabana Palace. Os donos do hotel não gostaram nem um pouco da presença da riponga no lugar chiquérrimo. A gota d’água foi quando Janis, nua, tomou banho de piscina e em seguida foi expulsa do hotel. Vagando pelas areias de Copacabana, ela conheceu Alcione, Tony Tornado e Serguei e foi com eles dar palhinha em um barzinho do bairro. Em 2020, em entrevista a VEJA, Alcione relembrou daquele dia. “Eu estava com o Serguei e encontramos com a Janis caminhando no calçadão da praia. Nós a pegamos e levamos para uma boate, onde deu uma canja improvisada. Fiquei impressionadíssima com sua voz.”
Em 2014, em uma visita ao Templo do Rock, em Saquarema, entrevistei Serguei (1933-2019) sobre o relacionamento que ele teve com Janis. Na parede de sua casa, ele mostrou uma foto em que beijava a cantora, em Copacabana. “Lembro quando ela veio no Rio de Janeiro e namoramos juntos em um canto escondido do Leme com um marinheiro holandês”, disse.
Depois da aventura nas areias de Copacabana, Janis seguiu para a Bahia, conforme a escritora Holly George-Warren relata na biografia Janis Joplin: Sua Vida, Sua Música. O trajeto foi feito na garupa da moto do americano David Niehaus, que ela conheceu no Rio de Janeiro e se tornaria seu namorado. No caminho, eles passaram algumas noites em Cabo Frio, na região dos Lagos fluminense, mas sofreram um acidente de moto ao baterem em mureta. Janis e Niehaus foram arremessados da moto e ela chegou a ficar inconsciente. Niehals a levou para um hospital onde ela foi medicada. “Dormimos em uma praia em Cabo Frio, ao norte do Rio, para onde viajamos de moto durante a noite”, relatou Niehaus à biógrafa. “Éramos como dois bons e velhos beatniks na estrada”, escreveu Janis sobre a aventura. Serguei, no entanto, em diversas entrevistas, afirmava que a viagem de moto para lá foi feita por ele, mas a história não se sustenta, já que Serguei não sabia pilotar motos e as cartas recuperadas de Janis falam que ela foi mesmo com Niehaus.
Quando finalmente chegou à Bahia, a paixão pelo artesanato foi tão forte que ela tatuou no pulso esquerdo o desenho de um bracelete comprado em Salvador. Janis levou muito mais que bijuterias do Brasil. “Estou convencida de que o jeito dela de dançar veio do Brasil”, garantiu a autora em entrevista a VEJA, em 2020. Em uma carta, Janis confirmou que nunca tinha sido tão feliz na vida quanto foi no Brasil. Disso ninguém duvida.
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