Por Capital Digital – Continuo com dificuldades para rotular funcionários públicos concursados de “bolsonaristas” e tenho visto com preocupação o linchamento moral de muitos em praça pública. O mais recente episódio de ataques à conduta de servidores de carreira do Estado acabou de ocorrer no Ministério das Comunicações. Nove profissionais estão sendo duramente e injustamente acusados de serem “bolsonaristas”, sem que nenhuma ação da parte deles ateste isso. Não há nenhum registro em suas fichas que demonstre que, de alguma forma, agiram fora da conduta prevista na Lei do Servidor Federal.
Simplesmente são “bolsonaristas”, porque o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, os reconduziu aos cargos de confiança que ocupavam na pasta depois de avaliar o trabalho deles no órgão. Não são apadrinhados políticos, não vieram por indicação do União Brasil. Todos de alguma forma já ocuparam postos-chave em diversos governos. Inclusive nos dois primeiros mandatos de Lula entre 2003 e 2010.
Nas reportagens que andaram saindo na imprensa eles seriam uma espécie de “agentes infiltrados de Bolsonaro que foram recontratados para sabotar o Governo Lula”. A lógica rasteira para corroborar essa versão é a mesma de sempre: “se eles trabalharam no Governo Bolsonaro, então são bolsonaristas”.
Os nove servidores têm um vasto currículo de serviços prestados há anos ao Estado brasileiro mas, pasmem, somente agora foram descobertos como “sabotadores infiltrados no Governo Lula 3”.
Decidi fazer o que os repórteres que escreveram tamanha bobagem não fizeram, já que não aceito que seja comum hoje em dia ter como única fonte de referência de informações o Google ou as redes sociais.
Pesquisei a vida funcional desses servidores públicos. Não fui atrás do que eles postam nas redes: se são cristãos, muçulmanos, judeus, evangélicos, budistas ou seja lá qual for a religião. Ou se defendem a família, a pátria e os costumes conservadores. Estou pouco me lixando para isso, assim como não quis saber quais são as preferências político/partidárias deles. Não avalio competência profissional de ninguém pelo voto que ele deu em A, B ou C.
Como conheço superficialmente alguns (não todos) e não sou dado a participar do costumeiro “embromation” das coletivas feitas pelo ministério, fui atrás de pessoas que pudessem falar sobre eles e dos seus currículos. Para tentar entender se de fato teriam algum perfil para se tornarem agora “agentes de Bolsonaro infiltrados no Governo Lula”.
Praticamente todos ocuparam posições relevantes em vários governos, sejam de esquerda ou direita nos últimos 25 anos. Passaram inclusive pelos dois governos anteriores do PT ocupando posições estratégicas para os ministérios onde desempenharam suas funções. Chegaram a trabalhar com autoridades do partido que ocuparam o Ministério das Comunicações, Telebras e Anatel. Só que agora, segundo a versão de uma imprensa que parece não estar muito preocupada em espalhar a desinformação, eles alcançaram a grande meta de se “infiltrar” no terceiro Governo de Lula, para sabotá-lo na primeira oportunidade que tiverem.
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