Por Allan Simon, do UOL – A demissão de Cléber Machado após 35 anos de trabalho é o choque de realidade que faltava para algumas pessoas entenderem o que é a Globo do presente e o que deverá ser a Globo do futuro no futebol. Aquela emissora que deteve o quase “monopólio” do esporte não existe mais, e nem sustenta uma equipe enorme de profissionais como fez no passado.
Não chega a ser totalmente surpreendente a saída de Cléber Machado de uma maneira isolada. O narrador foi preterido pela emissora na lista dos que viajaram para o Qatar na Copa do Mundo do ano passado. Mesmo assim, fez uma Copa brilhante em termos de mídia, sendo até mais destacado do que os profissionais que estavam in loco. Entre suas famosas gafes e erros, chamou muita atenção também por narrar partidas inesquecíveis, como Argentina x Holanda nas quartas de final.
No começo deste ano, Cléber Machado provou que atrai jogão, mesmo, e fez a Supercopa entre Palmeiras e Flamengo, um histórico 4 a 3 para o Verdão. Nem isso foi suficiente para evitar que a onda de cortes da Globo o atingisse, como atingiu também Jota Júnior recentemente, além da Central do Apito (uma decisão acertada no sentido do formato, mas talvez nem tanto no sentido de acabar radicalmente com comentários ao vivo sobre o tema).
A Globo que começa 2023 no futebol tem como grande produto a volta da Libertadores, o que fez alguns torcedores simpáticos ao canal comemorarem uma suposta “volta do monopólio”. Balela. A Globo apenas retomou o pacote de TV aberta que estava com o SBT, mas não conseguiu nenhum direito de plataformas pagas no processo de concorrência promovido pela Conmebol ano passado, com Disney e Paramount dividindo Libertadores e Sul-Americana.
Na década passada, o sportv dividia as duas competições com o Fox Sports. Até a Série B, que era dominada pela emissora, agora está fatiada em outros veículos, com o Notícias da TV já tendo informado que a Band será o destino em TV aberta, e tendo chances ainda de ESPN transmitir alguns jogos em plataformas pagas.
Por mais que se considere um desgaste de Cléber Machado com o passar dos anos na Globo, não é normal a maior emissora do país promover tantos cortes como vem fazendo nos últimos anos. Uma simples ideia de “renovação” dos quadros também não pode ser desassociada do fato de que profissionais mais jovens tendem a ganhar salários menores. Se fosse só a saída de Cléber, poderíamos entender como um fato isolado, mas não é.
Aquela Globo que gastava bilhões por ano para manter poder absoluto sobre o futebol brasileiro e ter em seus quadros os profissionais mais populares não existe mais. Agora é vez da Globo que vai gastar na medida que achar correta para transmitir o que achar necessário e com os nomes que couberem nas planilhas financeiras.
O futuro das transmissões ainda é incerto. Cléber Machado era um dos possíveis componentes de uma sucessão de Galvão Bueno, que a Globo trabalhou para acontecer sem um “novo Galvão”, mas com rodízio entre profissionais. Agora esse posto fica com Luis Roberto, Gustavo Villani e Renata Silveira na TV aberta, com clara vantagem para Luis, que está na emissora há 25 anos.
Quanto a Cléber Machado, a forma atual permite que se encaixe em praticamente qualquer veículo de imprensa para seguir com sua carreira. Hoje há futebol em diversas emissoras e serviços de streaming. Dificilmente o mercado desperdiçará a chance de contar com o profissional, a menos que ele queira dar um tempo após tantos anos de trabalho na Globo.
Confira abaixo o comunicado da Globo sobre a saída de Cléber Machado:
“O vínculo fixo de Cléber Machado com a Globo chega ao fim, mas as portas da empresa continuam abertas para novos projetos no futuro. Nos últimos 35 anos, Cleber Machado narrou grandes momentos do esporte brasileiro na Globo. Sua história profissional se mistura à história do esporte da Globo e, além de futebol, automobilismo, basquete, vôlei, atletismo, entre outras modalidades, ele mostrou versatilidade ao atuar também como apresentador e comentarista em programas da TV Globo e do sportv e ao ancorar transmissões de desfiles de Carnaval. Grande profissional, Cleber esteve presente nos principais eventos esportivos nacionais e internacionais ao longo das últimas décadas e contribuiu para alimentar a paixão do brasileiro pelo esporte, especialmente o futebol”
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